UMA FIGURA ESPECIAL
O ano era o de 2005. Um pouco antes, eu havia sido “tentado” pela minha filha para fazer uma nova faculdade e, com isso, sair do marasmo em que eu me encontrava, pois, segundo ela, eu já estava parado na ociosidade da minha plenitude intelectual por bastante tempo. Pois bem... Incitado a comprovar que a idade e o tempo sem frequentar uma sala de aula, como aluno, não faziam muita diferença na hora de me submeter às provas de um vestibular - já que a experiência e o conhecimento adquiridos eram meus e que eles faziam parte do meu dia a dia profissional -, eu resolvi que já era tempo, também, de dar uma “lição” na minha filha: na época, ela achava que a relação tempo e idade não batia bem com conhecimento e modernidade. Sabem qual foi o desfecho disso tudo? Eu lhes respondo: foi a minha inclusão no curso de Comunicação Social – habilitação em jornalismo. Para nossa alegria, fui aprovado e classificado em terceiro lugar.
Agora, se vocês pensam que eu fui “passar na cara dela” que eu havia conseguido aprovação – mesmo sendo velho – e que o meu conhecimento era ultrapassado (palavras usadas por ela) – e que, diante do meu triunfo, descarregar toda a soberba de que eu sou o tal, com o nariz empinado e insolência, enganam-se! Eu fui, na verdade, humildemente, agradecer-lhe o incentivo e a estratégia psicológica que fizeram com que eu me motivasse e saísse daquele falso conforto (e preguiça mental) de que o meu tempo havia passado, que deveria dar vez aos mais jovens ou que, o que mais me esperançava era, na verdade, a confiança na tão sonhada aposentadoria, para poder curtir a ociosidade dos dias sem precisar levantar cedo, sem ter que fazer a barba e poder estar sempre de bermuda e chinelo nos pés.
Mal eu sabia o quanto aquele incentivo, para eu voltar ao chão da universidade e ocupar uma daquelas cadeiras e poder estar no meio de acirrados debates, ora ouvindo, ora expondo, ia me fazer bem e me proporcionar, ao mesmo tempo, novos conhecimentos e, principalmente, novos amigos...
Um desses novos amigos, já no primeiro dia, chamou-me a atenção mais do que o normal. O cara parecia uma coruja no meio de uma reunião de gaviões, falcões e águias. Ele estava sempre isolado e sentado, fazendo a leitura de um livro – ou num banco ou até mesmo nos tijolos crus e nus dos canteiros que circundam as pequenas árvores que tentam, entre um bloco e outro de prédios, dar um pouco de sombra para quem tem um transporte e até, no caso do personagem, gosta de sentar-se debaixo dos galhos, quase esturricados pelo sol inclemente do nosso nordeste, mas que resistem bravamente e conseguem – embora precariamente – dar abrigo aos que procuram um pouco mais de contato com a natureza e, especialmente, diminuir o calor do ambiente.
Aproximei-me dele. Passamos a nos sentar no fundão da sala de aula, na última fileira de cadeiras. E, desta forma, passei, também, a conhecer a sua índole, o seu pensar e o seu modo de viver – pessoal e profissional.
Tornamo-nos amigos. Ele estava fazendo o curso de Comunicação para aprender, na teoria, o que já sabia na prática, Polêmico, esse cara sempre defendeu o seu ponto de vista e é, até hoje, um critico feroz dos seus contrários.
Durante o período de faculdade, éramos tipo Cosme e Damião. Onde um estava, o cós do outro estava junto. Debatíamos e filosofávamos no café de dona Marileide ou nos encontros literários aos quais íamos.
Exímio repórter, muito me ajudou na feitura de textos, mostrando-me que trocando apenas duas ou três frases, dos lugares onde elas estão, o efeito que causam, no novo lugar, faz a diferença entre uma matéria simplória e outra que faz, quem por ventura a ler, refletir sobre o assunto abordado.
Com o término da faculdade, temos nos visto pouco – a profissão de cada um exige esforços redobrados e, por isso mesmo, nos finais de semana, o que mais queremos – mesmo sem precisar estarmos aposentados – é o conforto do lar, a bermuda como calça social, a barba por fazer e, nos pés, os chinelos de borracha no lugar do tradicional sapato da semana.
De lá para cá, eu já fui pai, irmão e amigo dele. Numa viagem que fizemos a Fortaleza, no Ceará, na ida, eu lhe fiz uma pergunta. Tive que esperar a volta, a chegada a sua casa, para que ele me desse a resposta. Era o pensador que não podia me dar qualquer resposta, mas, sim, a resposta que pudesse perdurar e servir de reflexão para o resto de minha existência.
Hoje, dia 16/12, esse cara – coruja no meio das aves de rapina – está fazendo 31 primaveras. Agora, já casado com dona Alânia, tem em Davi o seu herdeiro, o porto seguro e o futuro de sua descendência. Daqui, um forte abraço e a admiração de quem sabe reconhecer a amizade e é grato pelas lições aprendidas.
Feliz aniversário Mário Gérson Fernandes de Oliveira!
Obs. Lançamento do livro de Contos de Mário (A Morte do Pescador)
O ano era o de 2005. Um pouco antes, eu havia sido “tentado” pela minha filha para fazer uma nova faculdade e, com isso, sair do marasmo em que eu me encontrava, pois, segundo ela, eu já estava parado na ociosidade da minha plenitude intelectual por bastante tempo. Pois bem... Incitado a comprovar que a idade e o tempo sem frequentar uma sala de aula, como aluno, não faziam muita diferença na hora de me submeter às provas de um vestibular - já que a experiência e o conhecimento adquiridos eram meus e que eles faziam parte do meu dia a dia profissional -, eu resolvi que já era tempo, também, de dar uma “lição” na minha filha: na época, ela achava que a relação tempo e idade não batia bem com conhecimento e modernidade. Sabem qual foi o desfecho disso tudo? Eu lhes respondo: foi a minha inclusão no curso de Comunicação Social – habilitação em jornalismo. Para nossa alegria, fui aprovado e classificado em terceiro lugar.
Agora, se vocês pensam que eu fui “passar na cara dela” que eu havia conseguido aprovação – mesmo sendo velho – e que o meu conhecimento era ultrapassado (palavras usadas por ela) – e que, diante do meu triunfo, descarregar toda a soberba de que eu sou o tal, com o nariz empinado e insolência, enganam-se! Eu fui, na verdade, humildemente, agradecer-lhe o incentivo e a estratégia psicológica que fizeram com que eu me motivasse e saísse daquele falso conforto (e preguiça mental) de que o meu tempo havia passado, que deveria dar vez aos mais jovens ou que, o que mais me esperançava era, na verdade, a confiança na tão sonhada aposentadoria, para poder curtir a ociosidade dos dias sem precisar levantar cedo, sem ter que fazer a barba e poder estar sempre de bermuda e chinelo nos pés.
Mal eu sabia o quanto aquele incentivo, para eu voltar ao chão da universidade e ocupar uma daquelas cadeiras e poder estar no meio de acirrados debates, ora ouvindo, ora expondo, ia me fazer bem e me proporcionar, ao mesmo tempo, novos conhecimentos e, principalmente, novos amigos...
Um desses novos amigos, já no primeiro dia, chamou-me a atenção mais do que o normal. O cara parecia uma coruja no meio de uma reunião de gaviões, falcões e águias. Ele estava sempre isolado e sentado, fazendo a leitura de um livro – ou num banco ou até mesmo nos tijolos crus e nus dos canteiros que circundam as pequenas árvores que tentam, entre um bloco e outro de prédios, dar um pouco de sombra para quem tem um transporte e até, no caso do personagem, gosta de sentar-se debaixo dos galhos, quase esturricados pelo sol inclemente do nosso nordeste, mas que resistem bravamente e conseguem – embora precariamente – dar abrigo aos que procuram um pouco mais de contato com a natureza e, especialmente, diminuir o calor do ambiente.
Aproximei-me dele. Passamos a nos sentar no fundão da sala de aula, na última fileira de cadeiras. E, desta forma, passei, também, a conhecer a sua índole, o seu pensar e o seu modo de viver – pessoal e profissional.
Tornamo-nos amigos. Ele estava fazendo o curso de Comunicação para aprender, na teoria, o que já sabia na prática, Polêmico, esse cara sempre defendeu o seu ponto de vista e é, até hoje, um critico feroz dos seus contrários.
Durante o período de faculdade, éramos tipo Cosme e Damião. Onde um estava, o cós do outro estava junto. Debatíamos e filosofávamos no café de dona Marileide ou nos encontros literários aos quais íamos.
Exímio repórter, muito me ajudou na feitura de textos, mostrando-me que trocando apenas duas ou três frases, dos lugares onde elas estão, o efeito que causam, no novo lugar, faz a diferença entre uma matéria simplória e outra que faz, quem por ventura a ler, refletir sobre o assunto abordado.
Com o término da faculdade, temos nos visto pouco – a profissão de cada um exige esforços redobrados e, por isso mesmo, nos finais de semana, o que mais queremos – mesmo sem precisar estarmos aposentados – é o conforto do lar, a bermuda como calça social, a barba por fazer e, nos pés, os chinelos de borracha no lugar do tradicional sapato da semana.
De lá para cá, eu já fui pai, irmão e amigo dele. Numa viagem que fizemos a Fortaleza, no Ceará, na ida, eu lhe fiz uma pergunta. Tive que esperar a volta, a chegada a sua casa, para que ele me desse a resposta. Era o pensador que não podia me dar qualquer resposta, mas, sim, a resposta que pudesse perdurar e servir de reflexão para o resto de minha existência.
Hoje, dia 16/12, esse cara – coruja no meio das aves de rapina – está fazendo 31 primaveras. Agora, já casado com dona Alânia, tem em Davi o seu herdeiro, o porto seguro e o futuro de sua descendência. Daqui, um forte abraço e a admiração de quem sabe reconhecer a amizade e é grato pelas lições aprendidas.
Feliz aniversário Mário Gérson Fernandes de Oliveira!
Obs. Lançamento do livro de Contos de Mário (A Morte do Pescador)