Nas primeiras águas, berra o boi solto na manga, corre o cavalo batendo os cascos, sacudindo o pescoço, roncando atrás de uma égua no cio; ronca o trovão, vem a fartura, transborda o leite na gamela; sopra o vento na janela e na palma do tucunzeiro. A mulher camponesa trabalha feito saúva e tem todo ano um filho. Soca pilão, debulha milho, arranca malva, varre o terreiro, cozinha e engorda o porco no chiqueiro, tange a galinha, toca o galo pro poleiro; serve o prato do marido e se banha nas águas do ribeiro. No fim da tarde, cata piolho na filharada e espera o amado que mesmo cansado quer fazer mais um pimpolho. Enfim, novo dia se levanta. Canta longe a cocar no ninho. A camponesa colhe os ovos, deita na galinha criadeira, nascem pintinhos. Crescem juntos os pretos chuviscados de branco, filhos postiços da galinha amarela e os amarelinhos filhos da mãe branca como se irmãos de sangue fossem. A galinha cisca no terreiro e vai para a horta, mas o pé não passa na tela de passarinho. Os pintinhos vazam por baixo num vão que só cabe um ovo. A mulher joga milho e de novo atrai a mãe das crias. Os pintinhos piam espavoridos. A galinha corre cacarejando, chamando a pintainhada: kuá... kuá... kuá. Kua-rá-kua-kuá. Karcará. Corre pra lá e pra cá, até que um atende o chamado, os outros o seguem e todos vão pro quintal fustigar um filhote de cobra verde na grama. Novamente, a camponesa cozinha, lava roupa e passa. E nesta lida, a mulher parideira passa a vida e tem todo ano um filho.