Cubatão. Memórias- Dos mangues aos bananais. Cap.VI

(Nossa Rua)

Tínhamos também um costume, acender uma fogueirinha. Isso, quando a noite chegava um pouco mais fria. Ah! a noite com seus sortilégios. E em volta do fogo fluíam histórias e mais histórias, principalmente as que falavam de assombrações e sobre marcianos, espaço.

E no passar das horas a fogueira ia se consumindo até que as brasas recobertas de cinzas, vasquejando de quando em quando

ao sopro da viração noturna, pareciam nos dizer que já era hora de dormir.

Ainda hoje parece que vejo aqueles rostos jovens avivados pelo fogo, sentados sobre pneus velhos ou sobre o chão contando ou ouvindo atentamente uma história.

Em nosso trecho de rua não havia iluminação pública. Uma casa ali, outra acolá tinha pendurada um bico de luz pálida. Fora isso a nossa rua era um breu. Mas nas noites de luar não existia coisa mais linda! A lua nascia atrás da cumeeira de uma igreja. Da minha janela eu ficava a espiá-la. E era tão grande e tão próxima estava, que se eu estendesse uns dois bambus, com certeza tocaria pelo menos o seu halo.

Ainda a rua...

Ah! as várzeas cubatenses:

Muitos riachos cortavam a nossa cidade originando as várzeas. Muitos já foram canalizados, se transformando de vez em esgotos, e as ditas várzeas quase não existem. Já no início da década de 1960, alguns já estavam comprometidos. Lembro aqui de um córrego próximo de casa, que apesar dos dejetos humanos e do colorido petróleo, ainda se viam os renitentes guarus (peixinhos coloridos) que faziam dali o seu habitat. Chamávamos de riozinho.

E eram nas noites quentes que aquelas várzeas pareciam um céu estrelado.

Os vaga-lumes as sobrevoavam em chusmas que mais pareciam constelações, acendendo e apagando suas luzes esmeraldinas. E as crianças, movidas pela curiosidade e inocência corriam para pegá-los, chamando-os: --“Vagalume toma carne, vagalume toma carne...”

Um tanka:

Vagalumeando-

A várzea toda parece

Um céu estrelado.

O sapo espreita a comida

E as crianças colhem astros.

Caiu bem ali:

“Meteorito, corpo metálico ou rochoso que, vindo do espaço cósmico, cai na superfície da terra”

Bem, essa pequena introdução tem uma explicação:

Foi numa noite nublada que presenciei algo que com certeza poucas pessoas tiveram o privilégio de ver assim tão perto.

Estava eu em frente de casa sozinho quando um pedaço da história da formação do universo caiu a poucos metros do meu nariz. Coisa de uns três metros.

O corpo incandescente era um pouco menor que uma bola de tênis e vinha acompanhado por dois pequenos fragmentos. Caiu entre os lírios do brejo. Corri para vê-lo. Fulgurou por uns segundos no meio da densa vegetação e em seguida se apagou para sempre. Ainda deve estar lá. Até hoje não sei por que o ignorei naquele momento. Não disse nada a ninguém, e tampouco fiz um pedido...

Ah! A minha rua também teve dessas coisas.

José Alberto Lopes.

José Alberto Lopes
Enviado por José Alberto Lopes em 15/12/2012
Reeditado em 16/12/2012
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