ETERNA COMPANHEIRA

e souza

Voltei para São Paulo em fevereiro de 2005, fiquei por dois anos em Itanhaém (pedra de canta), onde além de escrever fiz dois programas de rádio, um bem cedo e outro muito tarde, experiência impar. Onde moro hoje a rua é um pouco escurecida por conta de grandes árvores ao longo das calçadas. Naquele ano chegava muito tarde e descendo minha rua notava na varanda de um sobrado a sombra de uma mulher que sempre debruçada à balaustrada e eu continuava andando e ficava boa parte da noite pensando naqueles longos cabelos. Dia seguinte passei pelo mesmo lugar e lá estava ela esperando, calada, observando a rua calma e lua solitária, pensei em cumprimentá-la já que ninguém me esperava em casa e todas as noites dava uma olhadinha para vê-la e até arriscar um simples “oi”, mas nunca tive muita coragem e também não queria perder a única que me esperava todas as noites. Durante o dia fazia outro caminho, mas à noite havia de ser aquele. Os dias passavam e percebi que aquela mulher esperava alguém que nunca chegaria. Em uma noite tomei coragem e cheguei mais cedo só para ver o rosto da dona daqueles cabelos longos.

Parei em frente ao sobrado e fiquei por um longo tempo observando aquela varanda. A partir dessa noite tudo ficou mais claro para mim, passei a cumprimentá-la. Hoje ela já não está mais lá, foi para outro lugar da casa.

Eu nunca mais me esqueci dos longos cabelos, dos longos fios daquela samambaia de metro que me esperava todas as noites.

edsontomazdesouza@gmail.com

E Souza
Enviado por E Souza em 15/12/2012
Reeditado em 26/07/2014
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