O Brigadeiro da Mamãe
O Brigadeiro é um doce tipicamente brasileiro e um dos símbolos do carinho materno desde sua origem, no final da década de 40. Sua receita mantém-se praticamente a mesma, mas testemunhou mudanças profundas nas relações familiares em nossa sociedade.
Na década de 50, o brigadeiro já era produzido para ser comercializado, mas foi nas cozinhas domésticas que ganhou ares de carinho de mãe, com aquele cheirinho de chocolate, que fazia qualquer menino levado se derreter de vontade de raspar a panela, hummm! Que delícia... A mamãe era uma senhora muito dedicada ao marido e aos filhos. Não faltavam carinho e atenção e os frequentes quitutes demonstravam os tradicionais dotes maternos. Educação rígida e atenta eram as provas de amor; a realização pessoal, ver os filhos crescer fortes e educados. A mamãe era vista como uma santa, assexuada, boa por natureza e brava por necessidade de educar.
Com a revolução sexual das décadas de 60 e 70, as futuras mamães da década de 80 reivindicaram o direito de usar o corpo para obter e dar prazer, os métodos contraceptivos se popularizaram. A crescente industrialização e a necessidade de serviços de melhor qualidade tornaram a mão de obra basicamente masculina insuficiente para atender a demanda do consumo crescente; por outro lado, o “custo família” aumentou e foi ficando mais caro manter filhos saudáveis e felizes. Resultado? As mães da década de 80 foram à luta e saíram para trabalhar fora de casa. Na sua maioria, ainda sem as mesmas qualificações dos papais e ganhando menos, mas o suficiente para as despesas pessoais e dos filhos. Os brigadeiros já não podiam ser tão frequentes e as mamães ainda arcavam com todas as obrigações domésticas. Haja fôlego! Não dava tempo nem para ser mulher!
Mas as meninas da década de 80 estudaram muito, elas queriam mais. Prepararam-se física e intelectualmente para serem as mães modernas. Nunca desejaram ser apenas a “coisa mais linda, mais cheia de graça, que vem e que passa, num doce balanço a caminho do mar”, como cantou o poeta. Elas queriam muito mais: ser mãe, com o mesmo carinho e afeto das suas mães, mas sem deixar de ser mulher e com uma participação ativa na sociedade.
As mães modernas tomaram posse do seu corpo, decidem se querem seios maiores ou menores, abdômen definido, pernas torneadas, quando engravidar, quando e com quem transar. As mães modernas recusaram o sacerdócio materno, a abdicação, a transferência dos sonhos. A missão de ser mãe continua bela, mas desde que não prejudique a beleza feminina.
As relações de trabalho mudaram e as mães modernas agora também são líderes e ocupam cargos de chefia com desenvoltura. Pensam em suas carreiras, sem deixar de ser atentas à formação de seus pequeninos. Mas o tempo é escasso e surge um elemento novo na organização familiar, a babá ou a creche, não para substituir os cuidados maternos, mas para permitir que as mamães possam educar seus filhos sem deixar de serem boas profissionais e belas mulheres. A mãe moderna não quer parecer santa e muito menos assexuada.
Mas vem a culpa... Culpa por não ser tão presente quanto fora sua própria mãe, culpa por não participar de todos os momentos de seus filhos, culpa por não dar a atenção que o marido merece, culpa, culpa, culpa... A dura questão é: seria tão positiva para os filhos modernos uma mãe sempre presente? Para tudo nessa vida há um lado bom e outro ruim, até para presença de mãe.
Os filhos também mudaram. A sociedade exige crianças mais bem preparadas e independentes, que devem estar acostumadas com uma realidade globalizada. Os filhos das mães modernas as amam tal qual os das mães tradicionais, porém as admiram não apenas pelo que elas são, mas pelo que elas representam na sociedade. Desta forma, é cada vez mais frequente e precoce serem questionados sobre a profissão de suas mães, seja na escola ou no convívio comunitário. Agora os olhinhos não brilham de orgulho apenas para descrever o que o papai faz, mas também para dizer qual é a atividade da mamãe. Penso que essa é a grande mudança na relação mãe/filho: há uma nova expectativa dos filhos em relação às mamães, um desejo de que elas também sejam importantes fora de casa.
Os papais modernos, por sua vez, foram se inserindo nas atividades diárias da família, pois as mamães não têm mais tempo pra fazer tudo. A presença paterna já é marcante nos cuidados com os filhos, reuniões e orientação das tarefas escolares, participação ativa nos momentos lúdicos e coautoria no estabelecimento das regras disciplinares. A figura do pai tradicional, aquele do jornal, provedor e pouco participativo continua a existir, mas agora corre o risco de tornar-se um marido descartável. As mulheres modernas querem ser respeitadas, tocadas, acariciadas, amadas e apoiadas; qualquer coisa a menos, pode ser muito pouco.
Fala-se muito das conquistas das mulheres no século XX, mas muito pouco sobre a conquista de toda a sociedade que, a partir deste novo paradigma da relação familiar, vê uma real unidade e integralidade da família: o pai mais participativo e próximo da realidade dos seus filhos, mães que são realizadas nas suas potencialidades de mulher e filhos mais independentes e com maior capacidade de perceber, na família, uma maior integração com a comunidade em que vivem.
O modelo da família tradicional ainda coexiste com o da família moderna nos dias atuais, mas é cada vez menos frequente e deve transformar-se em raridade com o avançar do século XXI.
E a sedução? Quem agora é o agente motivador da conquista? Onde essa história começa?
O homem e a mulher modernos não deixaram de lado a “pegação” e para isso o corpo bonito basta. Mas ninguém hoje quer ter filhos com quem não consiga conversar, admirar e amar.
O que pode ser mais sensual que uma médica, 25 anos de idade, vestida de branco, estetoscópio pendurado no pescoço esguio, fala mansa e carinhosa, com um sorriso realizado no rosto? Paixão à primeira vista! Casado e feliz estou há 12 anos. Mas o brigadeiro da mamãe agora pode também ser o brigadeiro do papai ou da confeitaria perto de casa. Tempos modernos, dos quais agradeço fazer parte todos os dias.
O Brigadeiro é um doce tipicamente brasileiro e um dos símbolos do carinho materno desde sua origem, no final da década de 40. Sua receita mantém-se praticamente a mesma, mas testemunhou mudanças profundas nas relações familiares em nossa sociedade.
Na década de 50, o brigadeiro já era produzido para ser comercializado, mas foi nas cozinhas domésticas que ganhou ares de carinho de mãe, com aquele cheirinho de chocolate, que fazia qualquer menino levado se derreter de vontade de raspar a panela, hummm! Que delícia... A mamãe era uma senhora muito dedicada ao marido e aos filhos. Não faltavam carinho e atenção e os frequentes quitutes demonstravam os tradicionais dotes maternos. Educação rígida e atenta eram as provas de amor; a realização pessoal, ver os filhos crescer fortes e educados. A mamãe era vista como uma santa, assexuada, boa por natureza e brava por necessidade de educar.
Com a revolução sexual das décadas de 60 e 70, as futuras mamães da década de 80 reivindicaram o direito de usar o corpo para obter e dar prazer, os métodos contraceptivos se popularizaram. A crescente industrialização e a necessidade de serviços de melhor qualidade tornaram a mão de obra basicamente masculina insuficiente para atender a demanda do consumo crescente; por outro lado, o “custo família” aumentou e foi ficando mais caro manter filhos saudáveis e felizes. Resultado? As mães da década de 80 foram à luta e saíram para trabalhar fora de casa. Na sua maioria, ainda sem as mesmas qualificações dos papais e ganhando menos, mas o suficiente para as despesas pessoais e dos filhos. Os brigadeiros já não podiam ser tão frequentes e as mamães ainda arcavam com todas as obrigações domésticas. Haja fôlego! Não dava tempo nem para ser mulher!
Mas as meninas da década de 80 estudaram muito, elas queriam mais. Prepararam-se física e intelectualmente para serem as mães modernas. Nunca desejaram ser apenas a “coisa mais linda, mais cheia de graça, que vem e que passa, num doce balanço a caminho do mar”, como cantou o poeta. Elas queriam muito mais: ser mãe, com o mesmo carinho e afeto das suas mães, mas sem deixar de ser mulher e com uma participação ativa na sociedade.
As mães modernas tomaram posse do seu corpo, decidem se querem seios maiores ou menores, abdômen definido, pernas torneadas, quando engravidar, quando e com quem transar. As mães modernas recusaram o sacerdócio materno, a abdicação, a transferência dos sonhos. A missão de ser mãe continua bela, mas desde que não prejudique a beleza feminina.
As relações de trabalho mudaram e as mães modernas agora também são líderes e ocupam cargos de chefia com desenvoltura. Pensam em suas carreiras, sem deixar de ser atentas à formação de seus pequeninos. Mas o tempo é escasso e surge um elemento novo na organização familiar, a babá ou a creche, não para substituir os cuidados maternos, mas para permitir que as mamães possam educar seus filhos sem deixar de serem boas profissionais e belas mulheres. A mãe moderna não quer parecer santa e muito menos assexuada.
Mas vem a culpa... Culpa por não ser tão presente quanto fora sua própria mãe, culpa por não participar de todos os momentos de seus filhos, culpa por não dar a atenção que o marido merece, culpa, culpa, culpa... A dura questão é: seria tão positiva para os filhos modernos uma mãe sempre presente? Para tudo nessa vida há um lado bom e outro ruim, até para presença de mãe.
Os filhos também mudaram. A sociedade exige crianças mais bem preparadas e independentes, que devem estar acostumadas com uma realidade globalizada. Os filhos das mães modernas as amam tal qual os das mães tradicionais, porém as admiram não apenas pelo que elas são, mas pelo que elas representam na sociedade. Desta forma, é cada vez mais frequente e precoce serem questionados sobre a profissão de suas mães, seja na escola ou no convívio comunitário. Agora os olhinhos não brilham de orgulho apenas para descrever o que o papai faz, mas também para dizer qual é a atividade da mamãe. Penso que essa é a grande mudança na relação mãe/filho: há uma nova expectativa dos filhos em relação às mamães, um desejo de que elas também sejam importantes fora de casa.
Os papais modernos, por sua vez, foram se inserindo nas atividades diárias da família, pois as mamães não têm mais tempo pra fazer tudo. A presença paterna já é marcante nos cuidados com os filhos, reuniões e orientação das tarefas escolares, participação ativa nos momentos lúdicos e coautoria no estabelecimento das regras disciplinares. A figura do pai tradicional, aquele do jornal, provedor e pouco participativo continua a existir, mas agora corre o risco de tornar-se um marido descartável. As mulheres modernas querem ser respeitadas, tocadas, acariciadas, amadas e apoiadas; qualquer coisa a menos, pode ser muito pouco.
Fala-se muito das conquistas das mulheres no século XX, mas muito pouco sobre a conquista de toda a sociedade que, a partir deste novo paradigma da relação familiar, vê uma real unidade e integralidade da família: o pai mais participativo e próximo da realidade dos seus filhos, mães que são realizadas nas suas potencialidades de mulher e filhos mais independentes e com maior capacidade de perceber, na família, uma maior integração com a comunidade em que vivem.
O modelo da família tradicional ainda coexiste com o da família moderna nos dias atuais, mas é cada vez menos frequente e deve transformar-se em raridade com o avançar do século XXI.
E a sedução? Quem agora é o agente motivador da conquista? Onde essa história começa?
O homem e a mulher modernos não deixaram de lado a “pegação” e para isso o corpo bonito basta. Mas ninguém hoje quer ter filhos com quem não consiga conversar, admirar e amar.
O que pode ser mais sensual que uma médica, 25 anos de idade, vestida de branco, estetoscópio pendurado no pescoço esguio, fala mansa e carinhosa, com um sorriso realizado no rosto? Paixão à primeira vista! Casado e feliz estou há 12 anos. Mas o brigadeiro da mamãe agora pode também ser o brigadeiro do papai ou da confeitaria perto de casa. Tempos modernos, dos quais agradeço fazer parte todos os dias.