Diplomacia

A ilusão de acharmos alguém que seja nosso amor eterno. Ou a ilusão de acreditarmos que num “ficar” não há problema, só confirma a ideia de que a compulsão é algo negativo. Achar o amor perfeito, buscá-lo incessantemente através dos bate-papos e redes sociais, é o estrago interno. É como uma dor de barriga, feita na mente. É um vício que esgota, pois cansa e é frustrante. O receptor não confirmará o desejo do emissor. Tá fora de lugar. Do lado de quem quer, há problema, pois é a ilusão de que se vai achar a pessoa perfeita. Troca-se um, por outro, não se responde a mensagem de outro, ver e se enxerga outro, manda mensagem pra outro e assim vai. O barco tá furado: uma hora vai afundar. Na verdade, o esgotamento já tá ocorrendo, e a pessoa continua achando que não vai acontecer nada. Já está acontecendo. Já se estão querendo dar um jeito na falta. Tentando preenchê-la com o amor perfeito, já se está querendo dá um nó para logo ser desatado.

Seja por fraqueza, seja por insistência – mendigar – ato compulsivo, só confirma que a vontade é intranquila. A criança que chora ao saber que seu pai é de sua mãe, vai poder encarar isso de frente. Ou poderá fingir que não viu. Ou poderá chorar a vida inteira. Se fingir que não ver – o que é a mesma coisa que nada – vai odiar o pai pelo resto da vida. Poderá virar um policial pra disfarçar a vontade – primitiva – de odiar o pai. Desconta no ladrão o que ele queria bater em casa. Se chorar porque a propriedade mãe é do pai, então poderá ser um menino manhoso. Capaz até de sofrer bullying na escola, pois tudo e todos pra ele vira ofensa. No futuro, vai atrás dos advogados para compensar suas perdas e danos cometidas. A perda, que ele não perde, e o dano, que ele sempre trata como danoso, é oriunda da mãe que gosta do pai. Ele, o garoto, que nós infantilmente chamamos de “menor de idade”, na verdade, já é um garotinho esperto. É esperto, é inteligente. Mas é neurótico também.

A compulsão, portanto, comparece pela vontade de achar a pessoa perfeita. Toda hora é um amigo novo no facebook. A onda do ficar também comprova isso. Seja de um jeito, seja do outro, o resultado é ruim. É frustração, é cansaço.

A diplomacia, que é um assunto mais interessante, é da ordem da perda. É falar de um lugar. É ser entendido e visto a partir de seu lugar. Seja da sua idade, seja da sua cidade. Da diplomacia vêm o jeito de falar; o que se está construindo. Aquilo que origina o Princípio de Realidade – de Sigmund Freud – em que o lugar é apropriadamente ocupado. A satisfação imaginária de achar a alma gêmea confirma a tese de que não existe felicidade. Nela reside apenas sonho, que travestido em forma de delírio, não acha a pessoa certa nunca. O namoro, de um, dois ou três anos, ou mesmo seu prolongamento, intitulado casamento, só é interessante se for tratado pela ordem do lugar. O lugar, advém da Realidade, advém daquilo que fazemos no serviço; advém do emprego e do trabalho. Advém não do desejo erótico prepotente do menino egoísta que não aceita o brinquedo quebrado. Advém sim, da falta, construída em torno de uma perda sentida no coração de todos. Não é problema psicológico. É questão universal!

arrab xela
Enviado por arrab xela em 14/12/2012
Código do texto: T4035544
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