Conforto
O ambiente seguro é o lugar onde temos conforto. É onde nos sentimos bem. É onde há prazer, a satisfação é alcançada. Não é a felicidade, pois entende-se que felicidade é esse ambiente em estado permanente. Como não existe esse conforto em estado regular, e permanente, pode-se concluir que felicidade não existe. Se houvesse não haveria irregularidade; não haveria oscilação. Tudo seria normal e regular.
No entanto, o lugar do conforto pode existir. Não necessariamente tem que ser procurado através de duas pessoas. Os padres e as freiras por exemplo, se enclausuram nos mosteiros a fim de acharem lá uma tranquilidade absoluta. Tem o lado interessante. Abandonam a vida aqui fora, e vivem num estado tranquilo e regular. É quase um conforto, se eles próprios não sofressem as pressões internas da vontade sexual. Acham eles que não precisam, mas precisam. E, não precisa ser religioso pra saber que essa vontade está em todos. Os “perversos” daqui de fora, falando popularmente, já têm vontades contínuas e impulsivas de realizarem a vontade sexual. Buscam a todo instante e a todo momento.
Enquanto lá no mosteiro os padres suspendem essa vontade, por acharem que vão conseguir saciá-la, conforme Freud belamente descreveu no texto “Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental”. Aqui, do lado de fora, as pessoas querem saciar a todo instante. Como dessa torneira só jorra vontade, nunca será satisfeito o gozo. Em síntese: lá e cá, estamos ferrados!. Nem se pode renunciar aos desejos; nem se pode achar que serão satisfeitos. O amor é justamente esse laço contraditório: nem inexiste, nem existe. Existe justamente nesse balaio de gato, em que a contradição é seu fundamento.
Amar incomensuravelmente é compulsão. É achar a tampa da panela. Vai dá sofrimento, porque não existe tampa da panela. Fingir que ama, é sofrer, pois a lerdeza de não querer se entregar ao Outro tem como consequência suspender a vontade de ter o Outro. Troca-se a vontade, real e simbólica, por um imaginário, às vezes, delirante. Não preciso do outro. E aí, sendo homem ou mulher, o que haverá é uma arrogante. Todo arrogante suspendeu sua vontade de amar. Transforma o pessoal em impessoal. Faz do amigo, um desconhecido. Ele próprio é um desconhecido, porque está desconhecendo que o erótico não é pornográfico, é humano. Quem não possui o erótico, quem não tem jogo de cintura, não ama. Não ama a si, portanto: não ama o Outro.