Colheita doce

As uvas estão doces e pesando nos cachos. Os pêssegos desprendem seu cheiro de fruta madura no pé. Na horta o alecrim é uma moita impedindo a passagem e perfumando o ar. O manjericão esparramou-se pelas bordas da caixa e seu cheiro inebria.

Toda a atmosfera pede uma colheita, enquanto os jasmineiros carregados de flores brigam pra sobressair em meio aquela festa dos sentidos, cores exuberantes, cheiros generosos, sol brilhante iluminando a paisagem.

Ela olha pra fora enquanto bebe um copo de água fria, deitando os olhos na paisagem lá fora. Ele está ao sol, sem camisa, com o suor escorrendo pelas costas e arando um novo trecho pra semeadura.

Ela sai de casa com um largo chapéu de palha e uma grande cesta.

Sente o calor naquela luminosa manhã de primavera. Ergue o rosto para o sol e se sente plena de energia.

Ele a vê chegar. Iniciam a colheita.

Juntos encaminham-se para um parreiral. Ele pega um cacho de uvas. Ela se estica na ponta dos pés e morde uma uva. Ele puxa o cacho que desce pelo colo dela. Ele vai beijando o rastro de sumo no colo dela.

E entre um beijo e os cachos apanhados, enchem a cesta. Correm para o pessegueiro e as frutas sumarentas caem quando o caule é sacudido. Ela pega as frutas que caíram; ele se aproxima e mordem juntos uma, até que isso se transmuda em beijo. A dama e o vagabundo teriam inveja da fruta sendo despedaçada enquanto o líquido escorre entre eles e o clima de paixão aumenta.

Ele a arrasta para o solo e caem numa mota de alecrim que desprende seus odores enquanto eles se beijam. O cacho de uva está esquecido no cesto e os pêssegos atraem uma abelha faminta.

Ao movimentar deles, o alecrim solta seu perfume. Ele estica o braço e pega um maço de manjericão. Para pra olhá-la e põe atrás da orelha dela, enquanto a aprecia.

Estão deitados lado a lado e ela desfaz o talo de manjericão esfregando no peito dele. O cheiro lembra a ela omeletes com ervas finas. Brinca que estão preparados pra cozimento.

O sol faz um rendado entre as ramadas das árvores e desenha em seus corpos.

Ali, ele a pede em casamento e entre uma mordida no pêssego e nas uvas, ela sorri. Do canto de sua boca escorre o sumo das frutas e ele a beija ali, enquanto ouve um sim mastigado e com cheiro de frutas maduras.