ROUBADO NO SHOPPING
Decidimos passar uma tarde passeando no Emporia Shopping, a poucos quilômetros do bairro onde estávamos hospedados em Malmo, na Suécia, então pegamos a linha seis de ônibus. Nevava muito e a temperatura praticamente gelada transformava as ruas da cidade num congelador insuportável, por isso ficar perambulando pelas lojas e cafeterias do shopping nos parecia a melhor opção. Ainda não o conhecíamos, mas tínhamos uma pequena ideia a respeito porque já o víramos em pesquisa pela internet.
Ao avistar a imponência da construção, ante a aproximação do ônibus, a tarde já começando a dar lugar ao anoitecer, constatamos o quanto realmente ele é grandioso e estupendo. Sob os flocos de neve, o frio perturbador enregelando-nos, descemos do coletivo, atravessamos a rua e entramos no shopping. Lá dentro, com o aquecimento central, a temperatura se tornou convidativa e agradável. Logo depois da entrada, ao lado de uma cafeteria, situavam-se os toilettes, porém antes, na parede à direita, situavam-se diversos pequenos armários para as pessoas guardarem seus pertences tanto para ir ao banheiro quanto para poderem passear sem necessitar carregar pacotes e outros objetos. Lá também poderiam ser guardados casacos, luvas, gorros, etc, usado na temperatura baixa fora do shopping. Ao guardar tais pertences nesses armários, o usuário colocava um código numérico, que deveria memorizar para abri-lo na volta, e pressionava ok para trancar. O código era confidencial, criado na hora, e somente o dono dos objetos o conhecia.
Antes de colocar nossos pertences no armário, por via das dúvidas ou por premonição, não sei, retirei as chaves do apartamento e escondi no bolso da calça, eu só me sentia seguro sabendo que caso houvesse algum problema, pelo menos tínhamos como entrar no apartamento e escapar do gelo das ruas. Feito isso, saímos a desbravar o ambiente. E no vai e vem entre as lojas, subindo e descendo escadas rolantes, seguindo sem rumo e alheio ao tempo, jantando por lá mesmo, nos divertindo, as horas logo se foram, era tempo de esperar o ônibus e voltar para casa. Imediatamente nos dirigimos aos armários onde deixamos nossas coisas, e o nosso era o de número dezenove. Ao tentar abri-lo, não consegui, tentei outra vez, nada. Foi quando, aterrado, olhei através do vidro e constatei que o armário estava fechado e completamente vazio, todos os nossos pertences tinham desaparecido.
Fôramos roubados em pleno shopping, concluímos alarmados, a preocupação tomando de conta de nós, o pavor levando as batidas do coração ao mais alto som. Casacos, luvas, gorros, a bolsa de Ana tudo mais que ali deixáramos devidamente trancado tinha sido levado por alguém. Fiquei sem ação, andando de um lado para o outro, Ana se desesperando, em pouco o chopping fecharia e ali estávamos nós, roubados e arrasados. Naquele momento pensei o quanto tinha sido previdente ao, pelo menos, retirar as chaves do apartamento do casaco. Só pensei numa solução, avisar à administração do shopping a cerca do roubo para procurarmos uma solução adequada para o problema. Pensando nessa possibilidade, o shopping prestes a fechar, saímos às pressas à procura de alguém que nos informasse onde ficava a administração daquele local, o coração em pandarecos, suando frio, os olhos em desespero.
Foi então que, olhando para o ambiente por onde caminhávamos em incrível rapidez, abobalhado, surpreso, percebi que aquilo tudo não parecia nada igual ao que eu vira nas proximidades do banheiro e dos armários onde colocáramos nossos pertences, quando chegamos. Ana, por sua vez, também viu isso, e ambos compreendemos: estávamos no andar errado, ali era o segundo, nosso armário ficava no andar térreo. Um tanto encabulados, mas felizes, corremos para a escada rolante e descemos, indo diretamente para o local dos armários, agora o coração descompassado pela tamanha alegria explodindo na alma. E vimos, o armário número dezenove continuava fechado e com tudo que era nosso amontoado lá, esperando por nós. Digitei o código, pressionei ok e ele se abriu, como de igual modo abri-me num largo sorriso de alívio, sorriso que Ana compartilhava com a beleza do seu rosto.