Síndrome do final de Ano

Síndrome do final de ano

Todo ano é assim. O final de ano se aproxima e eu vejo as pessoas contagiadas pelo clima de alegria das festas de natal e de ano novo, sorrindo, beijando, abraçando e se confraternizando com muito amor e alegria. Ressalta aos nossos olhos a luz das lojas enfeitadas, as ruas iluminadas, o brilho no olhar das crianças e a alegria das músicas natalinas inundam nossos ouvidos num consumismo desenfreado.

Nesse período, geralmente começo a me sentir angustiado, estressado e com uma ansiedade crescente. As pendências do trabalho, as compras de final de ano aumentando as despesas, trânsito, filas e aglomerações em shoppings e supermercados, pressões de familiares e amigos, provas finais das escolas ou prazo para entregar o trabalho de conclusão da faculdade ou pós-graduação acabam com nossa alegria. E a pressão por parecer estar feliz e ser “obrigado” a se divertir nas festas se somam à minha solidão para tornar essa época do ano um período quase insuportável.

As formalidades se impõem parecendo ganhar vida própria. São cartões escritos em grande escala, felicitações e mensagens por atacado encaminhados ou compartilhados em e-mails e redes sociais, presentes distribuídos em série, práticas filantrópicas, beijos e abraços ritualizados num enlouquecimento efêmero.

Precisamos mostrar boa vontade, porque afinal “mamãe acha isso muito importante”, ou então “as crianças acreditam em Papai Noel” e para não desfazer a magia caímos na armadilha e nos comportamos como se acreditássemos. Nessa situação, as crianças continuam a acreditar em Papai Noel mesmo que não acreditem, para não decepcionar os adultos.

Entretanto, não sou o único a sentir-se desconfortável nessa insanidade socialmente aceita. Segundo a ISMA-BR - International Stress Management Association, esse período que antecede as festas de final de ano causa estresse e ansiedade em mais de 80% das pessoas entre 25 e 55 anos, gerando noites mal dormidas, irritabilidade, melancolia, depressão além de ganho ou perda de peso. Nos Estados Unidos esse fenômeno é chamado de “holiday heart syndrome” , em português chamamos de “síndrome do final do ano” e se repete todos os anos.

"Odeio o final de ano", "odeio festas", "o fim de ano pra mim é uma obrigação familiar", "odeio esse consumismo", "me sinto só neste emaranhado de gente comprando", são expressões marcantes que ouvimos nos consultórios de psicologia nesta época e que nos dá a sensação de que essas pessoas falam "de uma profunda angústia, de um terror sem fim". O "inferno astral de fim de ano". Enquanto isso, lá fora, nas rádios e alto-falantes, nos becos e nas avenidas, nos barracos e nas mansões, em grupo ou na intimidade se repete num ritual cadenciado, a mesma frase vazia de sentido, exaustivamente ensaiada nesta insanidade coletiva:

“FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO ANO NOVO