Rabiscos Nas Mãos

Já não rabisco versos ao longo dos dedos pra aliviar essa angústia. Vi a longa altura que o continuar está do começar. Minhas asas estão machucadas, esse duelo com minhas beiras está me matando. Espero que a vitória possa me fazer levitar. Não estou confiante.

Madrugadas e mais madrugadas alcóolicas, tentando andar sobre as linhas da minha própria vida. Já conheci homens que quebraram seus pés ao dar o próximo passo. Não consigo mais andar em linha reta, mas é algo que preciso tentar. Os faróis das docas já não me despertam emoção, os beijos ardentes hoje estão frios, inertes. Meus cigarros foram todos despedaçados, meu corpo foi aberto. Minha última camada de pele que me protegia está morta.

Já não consigo mais escrever sobre o amor, já não sinto mais falta dos corpos. Estou em carne viva, fétido. O seu eu te amo não me diz mais nada. O chuvisco de lágrimas cessou antes de você ir embora e meus sentimentos estão secos nesta poça d’água no chão. Meus pés estão firmes. Descalços. O asfalto está quente, mas só o que eu consigo sentir é o frio das minhas palavras.

Pois bem, me ponho de pé. Parei aqui depois de um voo mal sucedido. Me encontro na faixa que desuni meus sonhos de construções que eu ainda posso levantar, no momento terminante dos meus talentos.

E neste momento, eu nunca estive tão próximo da glória. É como se minhas asas já não doessem mais. Mas meu corpo está queimando, pois escolhi permanecer abraçado ao fracasso. Subestimo-me, desdenho.

Que alguém venha abrir meus olhos, e me salvar. Porque poesias escritas nas linhas das mãos somem com o tempo. E eu não quero escrever o meu futuro, porque tenho medo de voar.

Lucas Mezz
Enviado por Lucas Mezz em 13/12/2012
Reeditado em 13/12/2012
Código do texto: T4034243
Classificação de conteúdo: seguro