Zequinha vestiu a camisa nova, penteou a carequinha e desceu feliz.
Que legal! Era Natal e tinha peru!
Ele estava imaginando o peru desde o começo do dia.
 
Alegre e sorridente, Zequinha observou um monte de pessoas as quais nunca viu antes. Soube que eram parentes.
Pediu à mãe um prato caprichado com um bom pedaço de peru.
Sua mãe lhe deu uma fatia de panetone com refrigerante. O peru só seria servido na hora da ceia.
Não gostou da informação.
Será que vai ter peru pra todo mundo?
Quem eram aqueles desconhecidos?
Disseram que eram parentes, mas Zequinha jamais os viu gordos ou magros.
Comeu outra fatia de panetone e bebeu mais refrigerante.
 
As horas avançaram, cada vez mais chegavam desconhecidos (parentes) e aumentava a confusão.
Nada de ceia! Nada de peru!
Será que vai ter peru pra todo mundo? Não parava de pensar o inquieto Zequinha.
 
Onze horas.
Oba! O peru parece que seria servido!
Que nada!
A mãe anunciou que faria um discurso.
Falou com o marido, pai de Zequinha, já completamente bêbado, para se aproximar.
 
A nobre senhora recordou os ausentes.
Zequinha não estava nem aí, porém, eu, que não participei dessa celebração, nunca compreendi essa mania de ressaltar quem não está no evento.
Deveríamos celebrar os vivos, não?
Eu realmente não entendo isso, mas vamos adiante!
 
Ela citou os saudosos sogros, todavia o marido acreditou que estava ouvindo demais já que ele cresceu num orfanato, não conheceu os seus pais.
Por que a esposa querida estava recordando os sogros, os pais dele?
Ninguém entendeu nada.
Zequinha não ligava para o que estava sendo dito.
Ele apenas queria saber:
Quando comeria o peru?

Os discursos pareciam intermináveis.
Depois de citar os sogros que o marido jamais conheceu, ela homenageou vários sobreviventes das últimas grandes guerras, falou de alguns parentes (esses que Zequinha conheceu) os quais já haviam falecido e não esqueceu emocionada do filho primogênito.
As lágrimas surgiram quando ela falou do rapaz, um marginal experiente que optou por seguir a via perigosa dos assaltos milionários e atualmente estava sendo procurado pela polícia.
O discurso ressaltando os “valores” de Marcelinho, o primogênito foragido, foi o mais longo de todos e encerrou as homenagens verbais natalinas.
 
Lá fora a campainha tocou.
Era um casal de mendigos pedindo um pedaço de peru.
Eles foram dispensados, pois o peru ainda não tinha sido servido.
Zequinha ficou preocupado.
Se ele, o filho da casa, ainda não provara o peru, como pode  ter peru para mendigo?
Já tinha gente demais para comer o peru!
“Vocês sobraram, vocês sobraram!”, pensou Zequinha enquanto os mendigos estavam sendo enxotados da porta.
 
Depois começou a troca de presentes, lágrimas, abraços e todas essas coisas que acontecem muito nos dias da ceia natalina...
Zequinha abraçou vários parentes, tremendos desconhecidos que jamais viu na vida.
As horas seguiram avançando, Zequinha sentou no sofá e terminou pegando no sono.
 
Finalmente o peru foi servido.
Muitas pessoas, já totalmente embriagadas, dispensaram o prato oferecido.
Talvez não caísse bem comer peru uma hora daquelas!
Zequinha foi procurado, porém a mãe constatou que ele estava dormindo.
“Que menino dorminhoco!”, falou com alguém e escolheu deixar o garoto descansando.
Alguém teve a idéia de colocar um CD.
Os mendigos não retornaram para saborear o peru, a festa começou a ficar mais animada, algumas pessoas arriscaram uma dança.
 
Zequinha parecia sonhar, era possível notar um sorriso no rosto dele.
É difícil adivinhar o que ocorria no sonho de Zequinha.
Talvez, no sonho, as conversas fossem interessantes, não existissem mendigos nem desconhecidos (parentes) e o peru não tenha demorado tanto tempo para ser servido.
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 13/12/2012
Reeditado em 25/12/2012
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