GUARDA-VOLUME

A mãe chegou na escola esbaforida. Vinha trazendo o filho pela mão:

- Ainda dá tempo de deixar ele aqui?

- Não, minha senhora, estamos lotados, respondeu calmamente a secretária.

A mãe insistiu:

- Ah, não dá mesmo? Ele é tão levezinho...

- Acontece que já estamos cheios. Aliás, a escola nunca gostou de guardar os aluninhos aqui nas férias, porque tem mães desnaturadas que não vêm buscar depois.

- Mas eu busco, eu busco, diz a mãe aflita; aqui é tão bom, tão seguro, ele não dá trabalho nenhum: não briga, não chora, não acha ruim, ele quase nem fala.

- Está bem, só deixe-me ver o peso.

A secretária coloca a criança numa balança de açougue.

- Hum, 30 quilos. Bom peso, vai caber num cantinho. A senhora paga em dinheiro, que o caixa está baixo. Mas o preço é simbólico, sabe como é, dever do Estado: educar, servir e proteger.

A mãe suspira, aliviada. Sai carregando um recibo. O menino fita a secretária. Ela coloca uma etiqueta nele. Está escrito: "entrada dia tal; saída tal dia depois de um mês". A secretaria sorri, satisfeita.

- Pronto, agora pode ir brincar.

No caminho pra casa, a mãe pensa, comovida:

- Mas que beleza de escola. Os tempos estão mudando! Antigamente era levar o moleque cedo e buscar à tarde. Ida e volta, volta e ida, todo dia. E nas férias? Ah, que tortura, o moleque o dia inteiro em casa. Agora não. Ele que fique na escola, que é o lugar de aprender a ser humano.