— Parabéns Lulus e Bolas!
Rosa Pena
Não sei se foi porque revi o filme do Almodóvar, Hable con Ella, Fale com Ela, onde ele apresenta dois personagens homens-heterossexuais, com as almas completamente nuas, expostas ao mundo, sofrendo de amores impossíveis, refletindo sobre amizade, chorando em espetáculos de balé, medrosos diante da morte, machos totalmente frágeis, dependentes e carentes.
Não sei se foi a Lya Luft em Canção dos Homens, onde ela escreve de forma pungente, o pedido do marido amante - “que ela não o humilhe por estar ficando calvo ou barrigudo", que não faça gestos de enfado quando ele repetir a mesma piada, que não tire o bebê de seus braços porque homem não tem jeito para isso, que o deixe ter momentos de fraqueza.
Não sei se foi o olho molhado de meu companheiro, quando saboreou um doce com o gosto de sua infância, que fiz com a receita herdada de sua mãe.
Não sei se é porque meu sobrinho que vai ser pai, perguntou a esposa qual era a sensação de ter um neném na barriga.
Não sei se é porque Eduardo, meu aluno de vinte oito anos, se justifica, extremamente constrangido, perante a sociedade seu salário ser inferior ao da esposa de trinta anos, tão ou mais cheia de vida do que ele.
Não sei se porque durante séculos o sexo masculino foi mandado para a guerra sem sequer querê-la ou mais ainda sem saber nem o porquê.
Não sei se é de tanto ler poetas homens, que em seus versos se despem mostrando ao mundo a difícil tarefa de não poderem "ser" apenas rosas.
Não sei se é porque em minha vida fiz tantos amigos de fé do sexo oposto e os vi tão iguais a mim em suas inseguranças.
Não sei se é porque esse brinde comercial me traz a sensação de que continuamos Amélias para alguns, apenas acrescidas de astenias e botox, daí como compensação:
—Ganhe um dia internacional e seja sempre uma menina boazinha.
Não sei mesmo as razões de não me sentir prosa nessa data, mas sim com vontade de dividir de vez os brindes, as tarefas e as promessas.
— Parabéns Lulus e Bolas!