UMA DATA PRA RECORDAR

Ontem tinha 17 anos e aguardava ansiosamente a chegada do dia 13 de dezembro para ter minha maioridade, e aí sim, poder mostrar para todo mundo que eu estava tirando a carteira de motorista. Tá pensando o quê? Essa data foi tão aguardada que a comparo com os primeiros pelos e cabelos que nasceram em meu corpo, que hoje, luto para que permaneçam, pelo menos, os da cabeça.

Pra variar, não tinha dinheiro para retirar a tal permissão para dirigir, mas pense num menino sor-tu-do! Com estes olhos que a terra comerá – tomara que demore bastante - vi a patroa do meu irmão, que por sinal gostava muito de mim, sacar de uma carteira de couro um bolo de notas de 50, misturadas com de 100 e 10 - errei até a ordem, e dizer: “toma cá menino. Vá tirar sua CNH”. Juro que ainda não tinha visto tanta onça em papel. As pupilas me saltaram que pensei que cairiam da cara. Fui pressionado! - Se reprovar no teste prático, finja que não me conhece, disse ela. Jurei que se conseguisse tirá-la não pediria mais nada a Deus, já era o suficiente para ser feliz. Tolinho! Peguei a quantia, e de uma forma como quem dizendo: te devo uma - na verdade eu devia mais de uma, mesmo assim, disse a ela que me aguardasse alguns dias. E assim sucedeu. Fiz questão de cumprimentá-la com a permissão para dirigir entre os dedos.

Agora sim, com a carteira de habilitação nas mãos, sou mais homem, pensei comigo. O que esquecera e de que não tinha carro. Puta merda! Você não vai acreditar, na verdade nem eu quis acreditar. Não gente, ela não me deu um carro. Para minha tristeza. Amarguei por anos vendo meninos não habilitados, porém com carros, jogarem fumaça em minha cara. Mas o carro era do papai. Entende? Meu pai me deu tudo o que precisava para ser homem, e nesse pacote não veio um carro. Droga, droga e droga! Por que não temos tudo o que queremos? Justamente porque não sabemos o que queremos.

Trabalhei duro na faxina e ganhava suados quinhentos e cinquenta reais, e quando pedi um singelo aumento, quase me mandaram embora. Já passou por isso neh? Então continue lendo seu probretão... Ganhava tão pouco, que alguns diziam que eu era “mão de vaca”, pois nunca pagava nada a ninguém. Hoje já consigo pagar alguns picolés. Sabe do mais, tenho carro. Nem venha com ideia você que cresceu olho, já tenho namorada. Brincadeira gente. Mamãe e meu velho me ensinaram a ser assim, meio abestado e brincalhão. Ensinaram-me também a ser persistente. Aliás, persistência é o segredo da resposta, e a permanência num mesmo propósito é a certeza de já ter as coisas que ainda não são vistas. É a famosa fé. Por falar nela, permita-me este cacófato: fé de mais, não cheira bem.

Gente, chega de papo, no dia 13 de dezembro de 2012 completo 27 anos, e nesses dez anos muita água passou por debaixo da ponte. Já sofri por alguém e fiz alguém sofrer por mim. É a vida, ou melhor, é o ciclo da vida. Quero os parabéns.

Eder Tofanelli
Enviado por Eder Tofanelli em 12/12/2012
Reeditado em 12/12/2012
Código do texto: T4032057
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