CIRCO LETAL
O mundo é um circo repleto de malabaristas, equilibristas, palhaços, trapezistas, ilusionistas e até feras, embora essas tenham sido retiradas dos espetáculos circenses. Ilusionistas são os homens públicos que nos fazem vislumbrar a esperança durante as campanhas eleitoreiras e quando assumem esquecem os corpos e as mentes desiludidos, estraçalhados no chão pela queda do trapézio. Palhaços fazem de nós, num poder que governa em benefício próprio, encobrindo safadezas, safando-se da Justiça. Justiça essa que, lenta qual velho trem maria-fumaça, faz do palhaço um eterno bobo da corte que muitas vezes é colhido pela morte antes de receber o que lhe é de direito e que os próprios governantes não respeitam. Equilibristas, malabaristas nos tornamos, nós, a dita classe média que, de tão baixa, está beirando o limite da pobreza e da miséria. Empobrecemos dia-a-dia e já estamos nos transformando em contorcionistas para poder sobreviver. As feras andam à solta pelas ruas das cidades, incorporadas nos homens judiados e escorraçados que hoje proliferam nas drogas, no crime, na prostituição, na loucura.
Talvez sejamos todos culpados pelo desarranjo social. Por omissão, por permissão. O caos está instalado, o picadeiro é um circo romano onde se digladiam homens e feras, homens e homens. O circo humano continua letal. Afinal, a História do homem é uma história de lutas onde os mais fracos sempre foram dominados a ferro e fogo. E a História presente tem armas mais afiadas, filhas das mentes corruptas, de linguagem apurada, que corrompem, dilapidam, enganam. Armas que matam a esperança, os sonhos, as ilusões.