Amar?
Às vezes acho que sou diferente. Às vezes acho que cometo deslizes no assunto Amor. Às vezes, acho que não sei amar. Confesso, que em algumas situações sou compulsivo. Exagero, nas decisões e fico perdido. Tenho aprendido que isso não é bom. A compulsão, a precipitação, certamente já me fizeram muito mal. Primeiro, que isso não porta uma sabedoria. Segundo, traz muito mais ansiedade e medo, do que propriamente segurança e proteção.
Por esse motivo, tenho optado por uma vida mais protegida. Mais segura. E, reconheço: é difícil! O caminhar, devagar – pausado e encadeado – é difícil, mas vejo-o de maneira mais inteligente. É mais elegante. É mais sofisticado. Há tantos anos que não me dou a namorar, embora existam mulheres que a todo instante me cantam – que não sei mas como é. Não sei se idealizei um tipo sonhado de moça. Uma mocinha. Não sei se estou sendo pobre – exageradamente apaixonado – ou, sei lá, excessivamente carente: mas sempre imaginei uma mocinha.
Posso cometer meus deslizes. Posso cometer minhas gafes. Posso – às vezes – falar mais do que o necessário. Mas, ainda assim, acredito numa mocinha. Gostaria tanto de uma moça, bonita, ao meu lado. Que fosse delicada; fosse gente fina. Que me amasse, como eu a amava. Eu queria ficar o dia todo lhe paparicando. Brincando com seus cabelos. Passando a mão nas suas pernas. Deslizando suavemente minha mão por sua barriguinha. Gostaria tanto de lhe acariciar. Ah, como desejo isso...
Pena que às vezes cometo o exagero de revelar o que desejo. Pena, que sou muito exagerado. Pena, que o que eu quero – fica só na minha mente – pena, que ainda não aprendi que as pessoas não querem isso. Pena, que ainda insisto nesse amor fraterno. Pena, que eu sou carente. Pena, que eu ainda não aprendi, que a vida é dura. E, que não adianta sonhar. Sou tratado como doido, porque desejo o impossível.
Às vezes acho Alex, que você não é um rapaz interessante. E é verdade. Porque se eu o fosse, não estaria insistindo nesse amor perfeito. Porque a perfeição não existe. E aí, tenho que reconhecer: só posso amar, verdadeiramente, quem me quer. Mal me quer, não. Mal se quer. Às vezes, nem é mal se quer, às vezes é diferença de amor mesmo. Nem todo mundo estar disposto a investir as fichas num amor verdadeiro. Às vezes, as pessoas preferem muito mais um parceiro. Preferem muito mais um namorado. Preferem montar um casalzinho, e desfilar de mãos dadas pela Igreja. Prefere, viver às custas da convenção social.
A maioria pensa assim. A maioria não acredita mesmo no amor. Sei lá! Às vezes, acho que já não sei mais nada. Às vezes, acho que o tombo é maior do que eu imagino. Eu me dou ao amor e em troca sou rejeitado. Às vezes, acho que o amor não existe. Às vezes, acho que eu fico ensinando, o que nem eu mesmo sei. Às vezes, acho que essa história de renúncia é pior do que eu imagino. Renunciar é um sofrimento terrível. É abrir mão de coisas, que às vezes não consigo abrir. É mais fácil mudar o curso, inventando teorias para não reconhecer a rejeição. Não ser correspondido, como é ruim. Enviar uma carta a um destinatário, que não responde. Há o remetente, mas o destino não existe.
Acho, depois dessa carta, enviada a mim mesmo como destinatário serei outro Alex. Um Alex que vai superar a moleza de viver se apaixonando – assim de qualquer jeito. Preciso consertar esse problema. O concerto, se dará pela arte. Nela reside o destino mais interessante. Nela, reside a esperança perdida – transformada – em magia para compensar a perda. Como é ilusão acreditar na alma gêmea. Pena, que eu preciso quebrar a cara, pra saber disso. Pena, que eu preciso investir moedas desvalorizadas para saber que a firma faliu.
O investimento não pode ser feito, abrindo mão de si. Todo investimento é apenas uma tentativa. Nada de abrir mão de tudo. Nada de se entregar por inteiro. Nada de se entregar totalmente. Se entregar, é apenas parcialmente. É apenas um pedaço. Se entregar totalmente é fácil e falso. Não há nada de interessante. Se entregar mesmo, tem que ser sem razão. Mas, não adianta abrir mão de si, em nome deste outro. Não! Existir, é tarefa mais árdua: é querer o outro, mas sem abrir mão de si. É desejar, mas é também ser desejado. Não é maltratar. Não é odiar. Não é brigar consigo. Não é fingir que gosta. Não é desgostar. É um negócio difícil: é gostar, e desgostar. É amar, mas é também renunciar. É dizer quero, mas é também dizer: não quero assim. É dizer, gosto; mas é também dizer: tenho que ver como vai ser. Não é se entregar. Não é se vender. Não é se arrepender. É simplesmente degustar.
É tirar proveito. Não é acertar no amor, porque no amor não se acerta. Não é mirar e esquecer tudo ao lado. É apenas chegar. É querer apenas namorar. É querer apenas paquerar. Não é achar que achou. Não é insistir se o outro não quer. É ser tolerante. Mas a tolerância é complicada, porque às vezes o desejo não se satisfaz. É tolerar até mesmo aquilo que não nos satisfaz. É contornar as coisas com sabedoria.
A dor de não ser correspondido é dor que não podemos desfazer. Posso colocar teoria. Posso odiar. Posso mentir. Posso inventar. Estou ferrado! Porque no coração partido, só tem uma saída: partir mesmo! Partir não é morrer. Partir não é matar. Partir, é abrir dentro, aquilo que sempre esteve partido. Tem gente que não investe. Fica na posição imparcial. Tem gente que menospreza, fica na posição odiosa. Tem gente que ama demais, ou seja: está investindo tudo. É o risco maior! Não vai pra frente. Mas, tem aqueles – como eu estou agora – ferrados. Investiram e perderam. Posso dizer a mim mesmo: nunca mais invisto. Mentira! Investirei agora, aos pouquinhos: mentira de novo! Da próxima vez vou investir tudo: vou me ferrar novamente! Só tem um jeito e não adianta fugir: só se pode investir, aos poucos. Só se pode investir, devagar. E, aos poucos, não garante nada. Porque a única garantia é essa: não tem garantia. Não existe garantia. A pessoa amada é apenas o reflexo de uma vontade de também ser amado. A pessoa amada é apenas uma ilusão – criada em nosso imaginário – de que ali encontraremos a solução da vida. Outra mentira! A mais difícil de todas. Contornar essa ilusão, é enfrentá-la de vez: o amor só existe para quem nos merece. Quem me deseja, me ama. Quem não me vê, pode até gostar de mim, mas eu precisarei ser cauteloso. Eu precisarei aprender, que o amor só existe quando há da minha parte a perda. Quem não me quer, não me quer. E pronto! Não adianta sofrer. Preciso, apenas desapegar: sair e partir. É sempre o partir que interessa.