LA MAR
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
Interiorano, sem poder contemplar o mar todo dia, hoje acordei pensando nela, como diria Ernest Hemingway, criador de “O Velho e o Mar”: “O velho sempre pensava no mar como sendo ‘la mar’, como é chamado em espanhol quando verdadeiramente o amam”. Em Cuba, Ernest Hemingway conheceu de verdade o mar, os peixes e pescadores experientes. Talvez eu tenha acordado pensando em “la mar” porque de véspera, à noitinha, havia lido, de José Saramago, esta frase: “O mar é o universo perto de nós”.
Anônimo poeta medieval catalão admite: “No mar / não há teu / nem meu. / No mar / tudo é teu / e tudo é meu”. “O mar é uma experiência de eternidade”, escreveu Thomas Mann. E Clarice Lispector, apontando para o mar: “Aí está ele, o mar, a mais ininteligível das existências não humanas.”
Aqui não faço distinção entre mar e oceano, que acaba sendo também um mar. Além disso, gosto do mar, mar mesmo, em sentido denotativo, e mar em sentido figurado. Na conotação de oceano como imensidão. Assim, sou capaz de imaginar um mar de areias, ou, na descrição de Luís da Câmara Cascudo, “um mar de utensílios, balangandãs, cachimbos". Ou, ainda com Nélson de Faria: "Até onde a vista alcança, é aquele mar de capim verde e agitado, batido de sol, ondulado pelo vento". “Stamos em pleno mar... Doudo no espaço / Brinca o luar – dourada borboleta”. Ah! Meus tempos de Castro Alves!
No campo moral, não é que existe o mar das paixões, o mar da corrupção, o mar da impunidade, o mar das regalias, um mar de fichas sujas, um mar de lambança, roubo, ladroeira? Na verdade, este mundo não é mesmo um mar de leite, um mar de rosas. Como diz a canção, você bem sabe que eu não lhe prometi um mar de rosas. Mas também há quem me pareça um mar de bondade, de candura, de dedicação, de pureza, de doçura, de meiguice.
Mas vontade mesmo que eu tenho era poder velejar por um mar de palavras abundantes, de abundância do coração. Um mar de palavras iluminadas a mancheias...