TEMPO DIFÍCIL

Era o início do ano de 1965. A Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo acabara de fazer seu primeiro vestibular. Como já contei em outras ocasiões, o Prefeito Hygino de Lima me mandara prestar serviço naquela Autarquia Municipal. Pela manhã frequentava a Faculdade Católica de Direito de Santos. Estava no quarto ano. À tarde e à noite fazia minha jornada regular de trabalho.

Na região, circulava o New Seller, semanário, jornal pertencente a um grupo de jovens vindo da Capital, exceto um deles, Fausto Polesi, de família de Santo André. Alguns jornalistas que prestavam serviços ao New Seller, dentre os quais, Valdir Pires, saudoso e Alberto Floret, eram meus amigos. Dessa amizade, foi evoluindo um desejo que sempre tive, de escrever. Eles me incentivaram, e a conclusão foi um contato com o Fausto, surgindo a idéia da publicação de uma coluna, onde fossem comentadas atualidades da nascente vida universitária da região. Somente existia no ABC, a Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), anexa a ela, a Escola Superior de Administração de Negócios (ESAN), e a recém criada Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo.

Entendia que, com isso, com a divulgação desse tipo de assunto, poderíamos estar contribuindo para a conscientização das autoridades, em dotar a região de maior número de faculdades.

Abordávamos todo assunto referente às três pioneiras escolas, o que de interessante acontecia dentro de seus limites, comentávamos as decisões na área da educação, tanto federais, estaduais, como municipais. Não vou dizer que tive interferência, mas, começou ali a se falar na criação da faculdade de medicina. E, em 1969 foi ela autorizada a funcionar.

Como vocês sabem, estava o Brasil em pleno regime militar. Era Ministro da Educação do governo Castelo Branco, Suplicy de Alencar, quando foi editada a Lei n.º 4464/64, a chamada Lei Suplicy, que dispunha sobre os órgãos de representação dos estudantes. Essa lei provocou grande revolta da classe estudantil, tendo o governo agido de forma rigorosa contra as manifestações dos estudantes.

Volta e meia tratávamos do assunto em nossa coluna. Coincidentemente, nessa época, meu saudoso irmão Waldemar, funcionário da Prefeitura, estava prestando serviço na Junta Militar. Em determinado dia, veio ele ao meu encontro e disse:

- Zé, (é como me chamava), cuidado com o que você escreve Não precisou falar mais nada. Já entendi!

Não posso afirmar, porém, a coluna deve ter durado até o fim daquele ano de 1965.

Então, já com um filho nascido em outubro, faculdade pela manhã, trabalhando, diariamente, até as 22:00h, algumas noites sem dormir, joguei a toalha. E a coluna acabou.

O amigo Ademir Médici, da coluna Memória do Diário do Grande ABC, recentemente andou publicando várias edições da mesma, o que para mim foi uma homenagem daquele dileto amigo.

Realmente, foi um tempo difícil. Porém, sinto imensa saudade dele!

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 10/12/2012
Reeditado em 10/12/2012
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