NEVASCA

Durante a nevasca de hoje aqui na Suécia testemunhei cemas sem dúvida sui-gêneris, como um carrinho de bebê empurrado pela mãe que atolou no monte de neve do caminho. Foi um

sufoco para ela, mas para mim ver aquilo tornou-se divertido e ineressante. O trânsito acontecendo ao lado, com seus carros, bicicletas e pedestres, e ela, coitada, tentando desatolar o carrinho de seu filhinho em vão, empurrando-o desesperada, puxando a neve com os pés e mais neve caindo do espaço, e mais empurrões, esforço, cara feia, até que, finalmente, ela conseguiu e se foi em seu caminho que me era desconhecido.

Lá adiante, num parquinho entre tantos outros aqui existentes, mais uma jovem mãe, que desta feita brincava de fazer bolas de neve com os dois filhos, um deles já arrastando a bolona que fizera, todo contente, gritava para avisar que sua boa crescia paulatinamente à medida que a girava pelo chão em vias de tornar-se gelo, enquanto o irmão mais novo precisava de ajuda para segurar a bolinha que conseguira fazer auxiliado pela mãe. Pensamos em nos aproximar dela para pedir permissão para tirar uma foto das crianças se lambuzando de neve, mas achamos por bem não fazer isso porque não tínhamos certeza sobre a reação que ela teria diante de pedido assim oriundo dum casal desconhecido. Voltando meu olhar para os dois meninos, veio-me uma frase ao coração: do céu sobre a Suécia milhares de anjos celestiais jogam bolas de neve uns nos outros, essa neve cai sobre a terra e os anjos terrestres se divertem da mesma forma.

Os idosos suecos são realmente um caso à parte, tamanha sua independência e disposição. Donos do seu próprio destino, administram seus recursos com sabedoria, andam por todos os lugares, alguns deles até com a ajuda do anda-já, mas sempre sozinhos e sem reclamar, vão aos supermercados, às cafeterias, pedalam suas bicicletas, dirigem carros, são lépidos, fagueiros, bem vestidos, saudáveis, alegres. Em dado momento de nosso passeio, eu e Ana caminhando com o maior cuidado para não escorregar na lama em que os carros transforma a neve, ou por caminhos onde esta endureceu e virou gelo, de repente lá vem uma senhora magra, alta, empertigada, bastante idosa, carregando um pacote pesado em cada mão, e ela passou por nós com uma rapidez inesperada, rápida, pisando firme, sem titubear, seguindo em frente apressada e sem qualquer escorregão, e nós dois capengando, com medo de cair através dum escorregão. Em pouco tempo a senhora idosa desapareceu na nossa frente, deixando-nos a comer a poeira da neve lá atrás.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 10/12/2012
Código do texto: T4029029
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