SUÉCIA - UM LINDO SONHO

A neve indiferente, finos blocos em forma de estrelas respingando sobre nossas cabeças, penetrando subitamente em nossos olhos, a temperatura gelada que ultrapassa as camadas de roupas grossas e térmicas e nos faz sentir sua força, o frio nunca antes sofrido, a pressa de todos pelas ruas amplamente vestidas de branco, alvura essa que depois se transforma em gelo e faz escorregar, aquele intermitente e incômodo vento gelado raspando nossos rostos como se fora uma língua congelada, irritando, maltratando, chateando, aborrecendo, as bicicletas e seus ciclistas de todas as idades percorrendo as ciclovias e nos avisando para sair da frente em sua corrida infrene, cuidadosa, porém displicente, tranquila, mas segura, multidões de árabes, chineses, japoneses, indianos, tailandeses, suecos, brasileiros(tão poucos!) conversando em seus idiomas de dar nó no cérebro.

Pais e mães puxam trenós sobre os quais os filhos pequenos estão sentados, o cinto de segurança sobre eles, que sorriem satisfeitos à medida que sobre seus corpinhos frágeis desaba a neve constante. Não há cães e gatos vira-latas soltos pela cidade, nenhum mesmo, todos tem os próprios donos, são muito bem tratados como membros da família, e já avistei inúmeras vezes as pessoas passeando com os bichinhos no meio da noite, tanto mulheres sozinhas quanto homens, seguros de que não serão jamais vítimas de qualquer tipo de violência, porque aqui na Suécia a vida é realmente uma maravilhosa tranquilidade que se expressa nitidamente nas suas feições felizes.

Os adolescentes, como convém a esse período do viver humano, vão aos shoppings, aos fast foods, aos parques e aos outros lugares onde se costuma ir e, animados, sorridentes, livres para viver uma existência confortável, espalham alegria em abundância, se abraçam e se beijam, dão gargalhadas, fotogravam-se uns aos outros, dançam, namoram, se relacionam, são muito felizes. Como verdadeiro futuro desse país rico, onde os políticos tem salário semelhante a qualquer outro trabalhador da sociedade e lavam a própria roupa suja na lavanderia coletiva depois de agendar o dia para tanto, além de não terem motorista particular nem assessores, nem roubam o erário e nem são corruptos, os adolescentes sabem que terão o mesmo comportamento de honestidade e hombridade quando assumirem as rédeas da Nação. A eles são ensinados valores humanos há muito esquecidos em países como o Brasil, infelizmente.

As mulheres suecas são livres, trabalham, cuidam de si mesmas e são independentes, fazem da vida, dentro da lei e dos costumes de seu país, o que a liberdade lhes permitir. São felizes, transmitem felicidade e criam seus filhos educando-os para serem cidadãos de bem probos, trabalhadores para ganhar o sustento, tratando-os como a essência do porvir, a geração que irá melhorar ainda mais o padrão de vida de uma nação já tão desenvolvida, rica e feliz. Elas amam e são amadas, tem o direito de fazer o que bem entendem de seu viver, longe do machismo desenfreado ou do domínio de quem quer que seja, muito menos de sua família, pois na maioridade, usufruindo do fruto de seu trabalho, são proprietárias de seu maior bem, elas mesmas.

Passar um período numa cidade sueca, como estou vivendo em Malmo, a terceira maior do país, bem e quase cosmopolita, um lugar que já está se tornando inesquecível em minha mente, é adquirir inigualável experiência, é conquistar o direito de, pelo menos, também sonhar em ser feliz em nosso tão espoliado, roubado e deteriorado Brasil. Saber que aqui na Suécia, pelo menos nessa localidade onde me encontro, não existe assalto nem qualquer outro tipo de violência, mas que em breve voltarei ao meu país onde esse tipo de coisa impera, principalmente a violência causada pelos traficantes, os roubos à mão armada, as mortes banais, o desapego ao amor à vida, ao pensar nisso já percebo um universo de melancolia explodir em meu coração. Pena que o Brasil não seja a Suécia.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 10/12/2012
Código do texto: T4028636
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