OLHOS CASTANHOS
Foi em maio quando aqueles lindos e grandes olhos vieram para ver o mundo. Eram sempre muito atentos e alegres. Janaina era a dona daqueles olhos amendoados e da cor da castanha. Observadora, logo começou a falar sobre tudo o que vivenciava. Na escola, entre os demais de sua idade, era a mais ativa, envolvida e tagarela. Sabia cantar, dançar e conversar com as pessoas como gente grande. Por este motivo, estava sempre cercada de amigos.
Quando Janaina chegava, a alegria a acompanhava. O amor que a gente sentia por ela chegava a doer no peito, querendo fugir para todos os lados. Chegava com sua roupinha de passeio, trazendo nos braços a boneca Guigui (que ria ao abrir e fechar os bracinhos) ou seus ursinhos Peposo e Peposa. Estes eram seus brinquedos favoritos entre os muitos que lotavam seu quarto de menina. Logo ao chegar, dividia suas coisas com todos ao mostrá-las, orgulhosa e feliz. Como era gostoso vê-la manuseando seus brinquedos com cuidado, parecendo uma “mãezinha” dedicada!
Janaina aparentava ser forte e dona de uma personalidade única. Era objetiva e verdadeira. Às vezes, até demais! Deixava claro quando gostava ou não de algo ou de alguém. Era preciso conquistá-la aos poucos antes para que se entregasse totalmente. Desconfiava de tudo e fingia não ter medo.
Era parceira indispensável para brincar e demonstrava liderar o grupo de crianças ao qual pertencia. Sabia dividir e ser paciente. Carinhosa e extremamente envolvente. Só tinha um problema: tudo devia ser do jeito dela e ai de quem não concordasse! Nem sempre se saía bem na arte de convencer e partia para um choro cheio de lágrimas grossas que rolavam pela face ruborizada e que causavam piedade no outro que logo cedia aos apelos da menina de olhos castanhos e amendoados.
Um dia os pais de Janaina discutiram. As vozes em tom alto e ofensivo deram fim a um casamento de cinco anos. Janaina era a única filha do casal. Ela ficara entre os dois maiores amores de sua vida: o pai e a mãe. Não teve como escolher. Apenas, no seu coraçãozinho, queria que tudo voltasse a ser como antes. Aos poucos, aprendeu a gostar das visitas constantes do pai e dos passeios que fazia ao shopping com a mãe nas tardes de sábado.
A situação ficou difícil para mãe e filha. Janaina precisava de alguém que estivesse por perto enquanto a mãe trabalhava para sustentá-la. Também precisa morar perto de uma escola. A casa da avó que sempre visitava e onde passava as férias passou a ser seu novo lar. Muitas vezes, a casa ficava cheia de primos para alegrar suas brincadeiras. Tudo isso fez com que se acostumasse à nova vida e se torna uma pessoa especial.
Janaina cresceu. Manteve muitas de suas características de quando menina e adquiriu outras ao se tornar mulher. Hoje, vive no seu próprio lar, junto com uma pessoa que escolheu para ser o parceiro de uma próxima etapa de sua vida. Os seus olhos continuam atentos e observadores. Com certeza, muito ainda tem para aprender e conquistar.