Encontro marcado

“É ela. Nossa, mas nas fotos ela era loira, deve ter pintado o cabelo. Não gostei muito não, mas vou esperar um pouco antes de falar.”. A loira passa reto, sem nem mesmo olhar para ele. “Ufa! Não vou precisar falar do cabelo.”. “Eu não devia ter vindo”.

Essa é uma das coisas que a internet proporciona: fazer vocês marcar um encontro com alguém que nunca esteve.

“Ela ta atrasada. Disse que gostava de pontualidade. Mentira. Podia ter ao menos mandado uma mensagem: vou me atrasar. Ia gastar 50 centavos”. “Eu não devia ter vindo”.

Todo mundo é legal pela internet. É mais fácil você ser perfeito pelo computado do que ao vivo. Você pode ser, forte, moreno, ter olhos verdes, ser médico, rico, advogado, loiro, ter olhos azuis, milionário, etc. Tem a opção de expor só das suas qualidades. Deixa que os defeitos vão conhecer os defeitos com o tempo. Vamos dar destaque ao que interessa. Nos medicamentos o efeito colateral só acontece depois que você engoliu. Na internet também.

“Agora é ela. Ih, ela é mais baixinha do que eu imaginava. Não parecia tão baixinha nas fotos. Bem que eu estranhei que ela só tinha foto da cintura pra cima.”. A baixinha passa reto e para na mesa de trás. “Eu não devia ter vindo”.

Lembre-se quando marcar um encontro pela internet nunca vá num lugar tão vazio que você não possa fugir, nem tão cheio que possa encontrar alguém conhecido.

“Ta vindo. É gordinha. Sabia que era. Sabia que aquelas fotos pareciam antigas demais. Me enganou direitinho. Agora faz sentido ela ter falado que gosta de comer, quando eu perguntei o que ela gostava de fazer. Pelo menos deve cozinhar bem”. Ela para na frente dele. Pergunta: onde fica o banheiro?, e segue. “Só vou esperar mais 5 minutos”. “Eu não devia ter vindo”.

Quando você está esperando alguém que você não conhece, todo mundo pode ser quem você está esperando. Cada pessoa que vem em sua direção é pode ser a sua futura esposa, mãe dos seus filhos, companheira para o resto da vida. Então você começa a criar toda uma história, imaginar um futuro, como vai ser, as brigas que terão, as voltas. Ela passa reto. E tudo o que vocês tinham vivido juntos, na sua cabeça, vai junto. Só resta continuar esperando.

“Eu não devia ter vindo. Vou embora. Não sei porque eu vim. trouxa”. Ele levanta. Abaixa-se para pegar a bolsa. Quando ergue-se ela está parada de frente pra ele.

- Peterson?

- Carol?

Os dois se abraçam. Cumprimentam-se. Finalmente estão se encontrando pessoalmente. Depois de tanto tempo conversando pela internet, telefone, SMS.

- Desculpa a demora.

- Nada, acabei de chegar aqui. Mandei uma mensagem dizendo que ia chegar atrasado, não recebeu?

Os dois sentam-se.

“Ainda bem que eu vim”.

Afonso Padilha
Enviado por Afonso Padilha em 10/12/2012
Reeditado em 10/12/2012
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