CRIANÇAS
Quem conheceu as crianças daquela estrada de chão, a uns dez quilômetros do centro de uma cidade do interior, talvez se lembre de um casalzinho de irmãos que parecia fazer história desde então.
Pedro e Aninha viviam com os amigos, brincando na rua até o horário em que o sol insistia em ir embora por trás das montanhas, deixando as estrelas e a lua em seu majestoso lugar.
O grupo parecia o mais feliz de todos que já passou por ali. Eram crianças saudáveis, criativas, dinâmicas, que conseguiam fazer de uma pedrinha no chão um objeto de muita serventia para seus jogos e brincadeiras.
Pedro e Aninha lideravam as peripécias daquele grupo por serem um ou dois anos mais velhos que os demais. Por este motivo, também eram os que recebiam as broncas dos mais velhos quando a brincadeira crescia a tal ponto que colocava em risco a segurança dos menores. Quando isso acontecia, ficavam um ou dois dias recolhidos em casa.
Como eram muito ativos, chegava um momento do castigo que ficava insuportável tê-los trancados dentro de uma casa pequena, tão cheia de afazeres. Dali a pouco a mãe gritava:
- Andem! Não aguento mais esta bagunça! Vão pra rua! Já!
Era exatamente a frase de que precisavam para sair porta afora, sedentos de espaço e amigos. Na correria para a liberdade, na estradinha, o pessoal todo se encontrava em questão de minutos. Pedro e Aninha passavam na casa de cada vizinho, chamando pelos parceiros de traquinagens e aventuras.
As brincadeiras ora envolviam todos do grupinho, desde os menores até os cães e os gatos da criançada. Ora só envolviam os maiores que já sabiam se virar ou entender as regras do jogo. O importante era estarem juntos para a partida de futebol, os jogos de amarelinha, pega-pega, esconde-esconde, corda e outras brincadeiras sem nome que eles mesmos inventavam no decorrer do dia.
Pouco se importavam se a roupa estava suja ou rasgada. A alegria de viver cada momento junto era o que interessava. Até o cheiro da poeira molhada pelos primeiros pingos de chuva eram curtidos antes de todos se despedirem para se recolher e se proteger do temporal.
Ninguém deve ter vivido momentos tão sublimes que fizeram aquelas crianças crescerem e se tornarem homens e mulheres felizes e com histórias para contar a seus filhos e netos.
Pedro e Aninha, de todos, são os que mais sabem contar o que fizeram naquele espaço cercado de árvores, pedras, mato e um riacho, entre a casa e a estradinha de terra. Somente eles sabiam que aquele era um espaço da vida especial chamado infância.
Luciane Mari Deschamps