Amar
Amor é diferente de carência. Carência é querer alguém a qualquer custo. Só se olha para o próprio umbigo. A carência é da ordem do narcisismo e nela não contém perda. Amar, ao contrário, é ultrapassar isso. É visualizar o Outro, é enxergar mais do que alguém para mostrar aos outros. Amar, de verdade, ultrapassa a convenção social. Serve ao coração, mas pode não servir a todo momento. Pois nem sempre a ordem divina do Amor é satisfeita, pois do lado de lá nem sempre advém aquilo que também merece ser chamado de Amor. Ou seja: onde não existe a perda, a renúncia, o que se vê é somente o próprio espelho. Amar, pra dizer a verdade, muitas vezes, é estar diante de sua solidão. Nela, ou com ela: não tem conversa. Solidão não é viver deprimido, achando-se 'melhor que os outros'. Solidão é saber que a vida é mais que depressão, ou melhor do que uma carência, estimada nos olhos alheios. Solidão é a irmã do Amor. Não é ela que escolhemos, ela está na gente. Só precisamos reconhecer isso. Estar a dois, pode ser profundamente solitário: se o amor, dito dos pares, é produzido apenas em torno da convenção social.