DEDOS, AMOR E OUTRAS COSITAS

Adoro o meu sorriso nesta foto: muito espontâneo. Prefiro acreditar que o chapéu era grande demais para a minha cabeça. Minhas orelhas sempre foram normais. Culpa do fotógrafo que não olhou que estavam se excedendo. Acho que tem culpa todo mundo. Leia sem segundas intenções.

Viajo em minhas fotos antigas. Sou um caipira nato cheio de recordações. Às vezes me dá saudade daquele dedão do pé escalavrado, daquela unha toda estuporada, que na maioria das vezes ficava na guia da calçada. Na verdade essas lembranças não são dos dedos machucados, mas sim das coisas que levavam a isso. Saudade daqueles pés descalços que não sentiam os quinhentos graus do asfalto numa partida de futebol de rua. Hoje sinto mais calor calçando tênis. Saudade disso? Deveria recordar-me de quê? Da internet? Dos jogos de vídeo-game? Aliás, esqueça os eletrônicos. Brinquedo para mim quase sempre não passava de bola de plástico, isso quando não era feita com retalhos enfiados numa meia. Sinto orgulho, acredite.

Por falar em eletrônicos, muitos deles, sequer, podia pensar em ter: era pecado. Era pecado ter televisão, por exemplo. Coisa de religião, diga-se de passagem, cega muita gente. Mas hoje graças a Deus a TV foi beatificada. Se bem que não me fazia falta: eu tinha "televizinho." Assistia na casa de um amigo de longa data.

Apesar de não ter tido muitos brinquedos, brinquei demais da conta, como diria um bom caipira. Como poderia deixar de citar minha velha bicicleta Monareta que dobrava ao meio? A maldita mola do banco amarrada com um barbante, porque caía a cada lombada. Não sei como, mas jamais furava um pneu. Mudamos tanto de casa que não sei que fim levou.

Para variar, também tive um amor platônico. Ah, como sofria! Sonhava, sonhava e disso não passava. Mas uma coisa que trago desde a infância é a persistência. Cortejei a menina da primeira série do colégio até o tão esperado terceiro colegial. Acreditem ou não, aos 17 anos, dei o meu primeiro beijo. Um pouco tarde levando em consideração que hoje em dia já há meninas de 11 anos grávidas. Mas isso é assunto para outra crônica. voltando ao beijo, foi maravilhoso. Jurei não escovar os dentes, mas foi impossível, a promessa era algo que me impediria de beijá-la novamente. E beijei, mas não passou disso.

Teria inúmeras lembranças, mas paro por aqui, para não cansar a beleza de quem lê. E você que conseguiu ler esse “lenga lenga” até o fim, com certeza deve ter, se não igual, bem parecida, uma história de infância que dá aquela saudade “desgranhenta” da simplicidade dos fatos.

Eder Tofanelli
Enviado por Eder Tofanelli em 09/12/2012
Reeditado em 31/08/2014
Código do texto: T4027331
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