Niemeyer
Já há algum tempo, o Jards Macalé, ao se referir à morte do Moreira da Silva, aquele, do samba de breque, disse que ninguém morre mais aos 98 anos de idade - "desaparece." Acredito que o mesmo tenha acontecido com o Niemeyer - apenas desapareceu. É isso aí, saiu de circulação, resolveu bordejar em outras freguesias, porque morrer mesmo, ele não morreu. Inclusive, é praticamente impossível que Niemeyer morra algum dia. Da mesma forma, é impossível ficar relembrando a importância histórica do Niemeyer, os seus feitos, o seu legado cultural, sem correr o risco de ser redundante. Pô, o cara está aí há uma eternidade; quem não o conhece, já desencarnou e não sabe!
A propósito do seu desaparecimento, eu já vinha percebendo a sua carinha triste, provavelmente de decepção diante das mazelas da sociedade atual. Em Brasília, por exemplo, as pessoas não entendem que os carros importados, que por lá circulam, foram feitos para andar com velocidade acima de cem quilômetros, e que por isso não podem ficar parando nas faixas de pedestres, às vezes para dar passagem a apenas uma pessoa. Tem mais: essa coisa de o Brasil ficar imitando os Estados Unidos em tudo, até na estrutura das palavras, também deve tê-lo deixado bastante chateado. Imagine que há bem pouco tempo, uma das nossas marcas de diferença linguística era colocar o adjetivo após o substantivo, diferentemente dos americanos, que falam preto sapato, ao invés de sapato preto. Pois é, lendo o jornal essa semana tava lá: “José Dirceu, o político preso..." - vá entender!