Dos passeios engaiolados
Dizem que se os passarinhos engaiolados não forem “passear” eles param de cantar. Certa vez, eu estava caminhando por um bairro nobre da cidade onde moro e vi uma porção de gaiolas encaixadas entre os galhos de uma árvore, no jardim de uma casa grande. Achei estranho o fato de eles estarem no seu habitat natural, mas privados da tão almejada liberdade de alçar voos. Foi nesse momento que um rapaz que passava na rua, ao ouvir meu comentário sobre o quão estranho aquilo era, disse que era muito normal os donos de passarinhos fazerem isso.
– Serve para que eles continuem cantando. As gaiolas têm que ser postas em árvores para que eles cantem e, de vez em quando, eles também precisam passear. Tem gente que não passeia com os passarinhos e depois não entende porque eles param de cantar – disse o rapaz.
A explicação dele me deixou ainda mais confusa. Mas eu tentei assimilar aquela lógica e cheguei a uma conclusão. Se o passarinho para de ver os lugares por onde naturalmente estaria voando livre, ele deixa de ter a ilusão de que um dia voltará a voar. Assim, o bichinho para de cantar, ou seja, para de pedir para sair. Mas, se ele, ainda preso na gaiola, dá algumas voltas pelo bairro com seu dono, continua na esperança de que um dia aquilo tudo voltará a ser seu. Dessa forma, ele canta implorando que o seu dono o tire daquele cativeiro para que ele possa ser livre outra vez. Assim, alimentar os sonhos da forma mais cruel é o sentido dos passeios diários dos criadores de pequenos pássaros.
E como se não bastasse a crueldade de prender um bicho que por instinto voa, só pelo mero prazer de ver a beleza dele todos os dias, os seres humanos por se acharem superiores a qualquer outra espécie de animal, pagam caro para ter o direito de posse sob essas outras pobres criaturas.