Caminho inverso
Durante 32 anos minha vida foi muito agitada. Acordava cedo todas as manhãs, seguia para o trabalho e, ao final da tarde, retornava exausta e ainda com mil coisas para fazer.
Primeiramente, trabalhei como auxiliar de escritório, depois, fazendo jus ao diploma de professora, passei a lecionar. Nos primeiros anos de magistério trabalhava apenas na parte da manhã, depois fui acumulando com os turnos da tarde e da noite.
Quem é professor sabe que as tarefas não terminam quando soa a sineta avisando o final das aulas. Sempre há muito ainda para ser feito em casa: planejamentos, elaboração e correção de provas, as intermináveis transferências de notas para os diários de classe, enfim, uma maratona que absorve grande parte do nosso tempo de “descanso”. Fins de semana e feriados muitas vezes são para organizar o material de trabalho, para preparar os conteúdos da próxima semana, ainda mais com um grande número de turmas de variadas séries. É totalmente diferente trabalhar com ensino regular e com EJA (Ensino de Jovens e Adultos), assim como trabalhar com turmas de pré-vestibular. Isso tudo eu encarava e até mandava bem. Mas, quando o final de ano chegava,eu estava destruída, exaurida, completamente sem energia. O cansaço mental era muito grande e eu pedia a Deus para que o tempo passasse bem depressa e chegasse a aposentadoria. Eu sonhava em me aposentar (aliás, acho que a maioria das pessoas não pensa em outra coisa). Os planos para a nova vida eram muitos: acordar tarde, viajar, ler todos os livros que sempre quis e não tinha tempo para ler, fazer um novo curso, investir em um projeto pessoal prazeroso, curtir mais a família e os amigos, fazer academia, caminhar, mas, acima de tudo descansar, relaxar. “Ah, que delícia o silêncio! Nunca mais ouvir o barulho ensurdecedor de uma escola é o paraíso!”
A aposentadoria chegou um pouco antes do previsto em função de um câncer. Depois do devido tratamento e de minha saúde plenamente restabelecida, graças a Deus (e ao INCA), percebi que aposentar pode ter suas vantagens, mas que estar atuante é muito melhor. Hoje, embora esteja feliz fazendo coisas que antes não fazia por inteira falta de tempo, como ler todos os livros que sempre quis, de fazer aula de pintura, de escrever, enfim, de estar “à toa”, sinto muita, muita falta do ambiente de trabalho. Não me imagino mais em uma sala de aula. Não. Mas penso que outro tipo de atividade me agradaria.
Hoje penso em fazer o caminho inverso: da aposentadoria ao trabalho. Talvez seja por ser uma pessoa naturalmente inquieta, por gostar de estar no meio de muitas pessoas, por ter vontade de viver experiências novas. Acho que a vida não tem sentido se não estivermos abertos a isso, a viver experiências novas, a conhecer pessoas novas, a aprender coisas novas.
Não há lugar melhor no mundo para estarmos em paz do que a nossa casa, mas também não há coisa mais interessante do que nos relacionarmos com o mundo lá fora. Mesmo tendo o mundo ao nosso alcance por meio de ferramentas tecnológicas como a INTERNET e o celular, a melhor coisa que existe é o contato físico com gente, e a gente só encontra gente no ambiente de trabalho, nas reuniões sociais, nas escolas, nas universidades.
Sinto saudade de uma vida que, embora fosse desgastante, me proporcionava aprender todos os dias uma coisa nova, me garantia gargalhadas, ou até aborrecimentos, mas me causava emoção. Acho que é isso que está faltando nessa minha vida atual tão pacífica: emoção.
É tão bom ouvir as ideias das pessoas, concordar ou discordar, absorver ou abstrair, responder ou calar, mas olhar nos olhos delas enquanto falam, observar suas expressões faciais e seus gestos, ser tocada por elas (há algumas que tocam até demais quando falam), ver a satisfação em seus olhos quando consideramos verdadeiras suas argumentações. Assim é que é bom: cara a cara. As redes sociais têm funcionado como um alento à distância de pessoas especiais, mas, definitivamente não substituem uma boa conversa ao vivo e a cores.
Se eu pudesse, nesse momento, estaria conversando com vocês pessoalmente. Já que não é possível, aproveito essa ferramenta para que minhas ideias cheguem até vocês. Sobretudo, gostaria de alertar às pessoas que esperam ansiosamente pela aposentadoria e dizer que o ser humano sempre busca o caminho inverso: quando trabalha quer parar, se está parado quer trabalhar. Isso significa que quando vocês estiverem do lado de cá vão concluir que o lado de lá pode ser bem mais divertido. Acho melhor já ir pensando no que fazer depois que não tiver mais nada para fazer.
Primeiramente, trabalhei como auxiliar de escritório, depois, fazendo jus ao diploma de professora, passei a lecionar. Nos primeiros anos de magistério trabalhava apenas na parte da manhã, depois fui acumulando com os turnos da tarde e da noite.
Quem é professor sabe que as tarefas não terminam quando soa a sineta avisando o final das aulas. Sempre há muito ainda para ser feito em casa: planejamentos, elaboração e correção de provas, as intermináveis transferências de notas para os diários de classe, enfim, uma maratona que absorve grande parte do nosso tempo de “descanso”. Fins de semana e feriados muitas vezes são para organizar o material de trabalho, para preparar os conteúdos da próxima semana, ainda mais com um grande número de turmas de variadas séries. É totalmente diferente trabalhar com ensino regular e com EJA (Ensino de Jovens e Adultos), assim como trabalhar com turmas de pré-vestibular. Isso tudo eu encarava e até mandava bem. Mas, quando o final de ano chegava,eu estava destruída, exaurida, completamente sem energia. O cansaço mental era muito grande e eu pedia a Deus para que o tempo passasse bem depressa e chegasse a aposentadoria. Eu sonhava em me aposentar (aliás, acho que a maioria das pessoas não pensa em outra coisa). Os planos para a nova vida eram muitos: acordar tarde, viajar, ler todos os livros que sempre quis e não tinha tempo para ler, fazer um novo curso, investir em um projeto pessoal prazeroso, curtir mais a família e os amigos, fazer academia, caminhar, mas, acima de tudo descansar, relaxar. “Ah, que delícia o silêncio! Nunca mais ouvir o barulho ensurdecedor de uma escola é o paraíso!”
A aposentadoria chegou um pouco antes do previsto em função de um câncer. Depois do devido tratamento e de minha saúde plenamente restabelecida, graças a Deus (e ao INCA), percebi que aposentar pode ter suas vantagens, mas que estar atuante é muito melhor. Hoje, embora esteja feliz fazendo coisas que antes não fazia por inteira falta de tempo, como ler todos os livros que sempre quis, de fazer aula de pintura, de escrever, enfim, de estar “à toa”, sinto muita, muita falta do ambiente de trabalho. Não me imagino mais em uma sala de aula. Não. Mas penso que outro tipo de atividade me agradaria.
Hoje penso em fazer o caminho inverso: da aposentadoria ao trabalho. Talvez seja por ser uma pessoa naturalmente inquieta, por gostar de estar no meio de muitas pessoas, por ter vontade de viver experiências novas. Acho que a vida não tem sentido se não estivermos abertos a isso, a viver experiências novas, a conhecer pessoas novas, a aprender coisas novas.
Não há lugar melhor no mundo para estarmos em paz do que a nossa casa, mas também não há coisa mais interessante do que nos relacionarmos com o mundo lá fora. Mesmo tendo o mundo ao nosso alcance por meio de ferramentas tecnológicas como a INTERNET e o celular, a melhor coisa que existe é o contato físico com gente, e a gente só encontra gente no ambiente de trabalho, nas reuniões sociais, nas escolas, nas universidades.
Sinto saudade de uma vida que, embora fosse desgastante, me proporcionava aprender todos os dias uma coisa nova, me garantia gargalhadas, ou até aborrecimentos, mas me causava emoção. Acho que é isso que está faltando nessa minha vida atual tão pacífica: emoção.
É tão bom ouvir as ideias das pessoas, concordar ou discordar, absorver ou abstrair, responder ou calar, mas olhar nos olhos delas enquanto falam, observar suas expressões faciais e seus gestos, ser tocada por elas (há algumas que tocam até demais quando falam), ver a satisfação em seus olhos quando consideramos verdadeiras suas argumentações. Assim é que é bom: cara a cara. As redes sociais têm funcionado como um alento à distância de pessoas especiais, mas, definitivamente não substituem uma boa conversa ao vivo e a cores.
Se eu pudesse, nesse momento, estaria conversando com vocês pessoalmente. Já que não é possível, aproveito essa ferramenta para que minhas ideias cheguem até vocês. Sobretudo, gostaria de alertar às pessoas que esperam ansiosamente pela aposentadoria e dizer que o ser humano sempre busca o caminho inverso: quando trabalha quer parar, se está parado quer trabalhar. Isso significa que quando vocês estiverem do lado de cá vão concluir que o lado de lá pode ser bem mais divertido. Acho melhor já ir pensando no que fazer depois que não tiver mais nada para fazer.