A LOURA SUECA

Muito loura, como aliás de fato são provavelmente quase todas as suecas, alta, soberba na sua elegância ímpar, muito bem vestida com seu casaco de marca, botas vistosas, gorro de extrema beleza e cachecol deveras feminino, vestimenta realmente adequada para o abençoado frio que está fazendo aqui em Estocolmo, ela levava consigo, com o charme e a pompa necessária, uma caríssima bolsa louis Vitton e caminhava tranquilamente pelas imediações do Banco Sueco e da famosa loja H & M quando a vi e observei todos esses detalhes. Dez minutos antes eu chegara à cafeteria e aguardava ser atendido em meu pedido. Entardecia, mas ainda estava bastante claro, e do meu posto de observação era possível ter uma visão privilegiada das pessoas se deslocando para os diversos pontos da capital.

Por instantes, repentinamente, a moça loura que me havia chamado a atenção estacou como se um pensamento qualquer a lembrasse de algo que precisava fazer, talvez algum telefonema que necessitasse dar, poderia ser até mesmo um bilhete que tivesse de escrever para alguém, escrever inesperada anotação por razões que somente ela sabia, bom não sei ao certo o que poderia tê-la feito parar de súbito e bem em frente a mim, mas o fez e me surpreendeu. Ela retirou a bela bolsa Louis Vitton do braço esquerdo e a abriu, sempre com delicados e atraentes gestos femininos, demorando-se em, decerto, procurar alguma coisa que lhe era importante naquele exato momento. Remexeu-a por um tempo, aguçou a visão, voltou a remexer atenta, agora colocando as duas mãos no interior da bolsa e, finalmente sorriu porque, quero crer, havia encontrado o que procurava.

Não que eu estivesse somente voltada minha atenção especialmente para essa loura elegante, pois tanta gente em derredor caminhava de um lado para o outro, indo e vindo em busca de seus destinos, dezenas entrando e saindo das lojas, do banco, carrinhos de bebês sendo empurrados por mães e pais amorosos, ciclistas correndo nas ciclovias, lá mais adiante incontáveis carros seguindo seus rumos obedecendo a perfeita sinalização de trânsito, tanta coisa para ver e se distrair. Mas fui despertado pela curiosidade em saber o que buscava em sua Louis Vitton essa já tão mencionada loura sueca parada além da vidraça da cafeteria onde eu me achava, agora sorrindo feliz por ter achado o que com desvelado afinco queria.

Conforme descrito, ela abriu-se num delicioso olhar sorridente ao descobrir onde pusera, entre suas dezenas de bugigangas úteis e inúteis, aquele algo especial procurado e retirou de sua famosa bolsa um objeto tão inesperado, que me deixou atônito. A princípio eu não quis acreditar no que via, porque a loura sueca tirava a tal coisa com displicência, elegância, calma, delicadeza e felicidade, e isso foi tomando forma aos poucos até se transformar efetivamente no que avistei em sua mão. Uma banana. Sim, exatamente, fiquei muito surpreso também, e no entanto a banana estava na mão dela para provar aos meus olhos que eu realmente a via, era uma banana sem nenhuma sombra de dúvida.

Minha perplexidade só aumentou no momento em que a loura sueca elegante, charmosa e, com quase absoluta certeza, de classe média alta, começou a descascar a banana sem perder um milímetro sequer de sua obsequiosa elegância, de seu intenso toque feminino, de sua graciosidade, e passou a comê-la depois de fechar a caríssima bolsa Louis Vitton e repô-la no braço esquerdo. E lá se foi ela, cheia de graça e beleza, comendo sua bananinha nanica em meio à multidão apressada e atarefada daquela tarde sem neve em Estocolmo, e eu, abobalhado, acompanhando-a com o olhar à medida em que a loura sueca andava e comia sua banana, nem sequer percebia a chegada da garçonete que trazia meu café expresso com leite e croissants.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 06/12/2012
Código do texto: T4023388
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