Apenas um universo

Apesar dos pesares e dos medos que o desconhecido traz, sigo eu tentando encontrar minha cara metade em um site de relacionamento. Razoavelmente estabelecida que estou imersa na cultura machista de que o homem deve ser o provedor ou, ao menos, ter uma profissão definida, resolvi dar uma chance a um homem 15 anos mais velho. Naturalmente ele separado e pai e dizia-se razoavelmente estabelecido. Se os possíveis impeditivos para mim pareciam inexistentes e assim continuaram após tê-lo conhecido, suas qualidades pareceram-me um pesadelo.

Dizia-se engenheiro formado pela USP e economista. O primeiro curso concluíra em tempo, mas levara 20 anos para termina o segundo (economia). Recém saído da universidade, e desacostumado de nela não estar, preparava-se para a segunda fase do processo seletivo do que seria seu terceiro curso. Ironicamente soltei:

- Em quanto tempo pretende terminar a antropologia?

Ele pareceu não gostar muito do comentário, mas tentou levá-lo em outra direção:

- Escolha um dos três motivos pelo qual escolhi prestar um novo vestibular: 1º pretendo ampliar minha visão, haja vista que minha instrução universitária foi basicamente positivista; 2º sou pão duro de carteirinha e quero continuar a pagar meia entrada; e 3º quero pegar as minas?

Eu que observara seus comentários e principalmente o caminho de seus olhos todas as vezes que uma mulher jovem e bem vestida passava no alcance de sua visão periférica disse:

- Posso assinalar as três?

Ele fingiu não entender meu comentário, mas não conseguiu tirá-lo de sua cabeça. Então começou a me contar sobre a dieta restritiva que estava fazendo, vez que pretendia voltar a correr maratonas após uma operação que poderia ou não ser concluída com sucesso e o permitiria correr sem sentir sua perna formigar. Para concluir, começou a falar de seus dotes culinários a dizer que preparava todos os dias pratos dos quais não lembro o nome, bem como deus seus inúmeros outros dotes.

Eu, geralmente, contida, quando não intimidada, falei mais do que nunca, quase nada sobre mim e muito menos sobre ele Seu assunto favorito.

Para completar a noite, ele termina me dizendo:

- Você pode ou não ser inserida no meu universo.

- Você pode ou não ser inserido no meu.

- Você não tem universo;

- Mas você tem.

- Entendo... afinal de contar o universo abrange tudo, não?

- Claro é um universo, mas aonde você pretende chegar, diga-me?

- Em nenhum lugar...

E com qual das alternativas sobre o curso de antropologia você ficaria?

- Bem, eu excluiria a da meia entrada.

- Então vou deixar você em dúvida sobre as demais.

- Não ficarei em dúvida...

Dentro desse contexto, conclui que estaria melhor acompanhada de uma boa conversa no sense com um falso amigo marxista, mas mais inteligente, do que com o sanduíche de almondegas sabe-se lá com o quê do meu recém conhecido meritocrata.

Melhor voltar à internet... ou não?

LUCILA GRACINDA
Enviado por LUCILA GRACINDA em 06/12/2012
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