CRÔNICAS CARIOCAS - HOJE TEM PROVA !
HOJE TEM PROVA
Era janeiro de 2006 quando soube do tal concurso da Traiiinxxxpeiitro, como prega o bom carioquês, e animei-me a participar. Animação não é a palavra exata, mas cabe neste momento. Nos dois últimos concursos que fiz eu havia sido reprovado com louvor, porém, fui à luta. Lembro-me do dia que fui a Santos, do lugar onde tirei as xerox necessárias (“xerox” tem plural?) e da imponente agência dos Correios onde me inscrevi. Tinha uma fila grande, ou melhor, GPC (plagiando o IPC), mas encarei-a quixotescamente e fiz a marvada da inscrição.
Dia 5 de Março de 2006, cedinho na Faculdade de Ciências Contábeis de Santos, fiz a prova, sem muita perspectiva; afinal de contas, não havia estudado niente e fui com a cara e a coragem. E com uma oração. Como Deus é companheiro de todas as horas na minha vida, pedi a Ele que ficasse do meu lado naquele momento cruel, dando cola pro meu cérebro e terminei a danada no tempo mínimo de permanência. Odeio enrolar com uma prova que eu, intimamente, sabia que não tinha mais nada a fazer.
Alguns dias depois, tive acesso ao gabarito e verifiquei, sofrivelmente, minha pontuação: sessenta e um pontos e meio. Desanimei-me. Não era pontuação digna de um concurso. Semanas depois, a colocação: 4º lugar. “I can’t believe” foi minha frase espontânea, emendada com outra oração. Ser agradecido é sempre bom.
Talvez esta história seja parecida coma sua: estudado pouco, pontuado pouco, mas...dizem que o que é do homem o bicho não come, portanto, estávamos lá no nosso Curso de Formação.
Não bastasse o stress de um concurso público de 500.000 almas desejosas de entrar no Sistema Petrobrás, ainda tivemos que encarar outras nove provas durante os 73 dias de convivência compulsória. E sem adicional. Mas lá fomos nós, com a cara e a coragem, de novo. E, claro, com Deus à frente.
Não foram provas de exigência máxima, verdade seja dita, mas não deixa de ser um instrumento de avaliação, pra usar do jargão educacional. Porém, o que mais me marcou nestas provas não foi só a tensão que havia antes de cada um delas, mas a camaradagem entre os colegas na hora de estudar. Por um momento, tornamo-nos colegiais, “tirando o ponto” uns dos outros e raspando a ferrugem da memória pra garantir uma notinha legal, que pode ser traduzida como ≥6,0. Os resumos, os diálogos, as rodinhas de estudo na sala, nas escadarias do RBC, no Jardim Botânico, à beira da praia, enfurnados nos apês. Isso valeu a pena.
Outra coisa interessante era que havia certa valorização dos lugares ao fundo da classe, era até engraçado, pra não dizer tragicômico. Quem, nos dias de aula, brigava pra sentar na frente; em dias de prova loteava os lugares do fundo e criava uma verdadeira especulação imobiliária, majorando o valor das carteiras. Valia tudo, menos encher o saco do Luiz Arthur, que reclamava das provas feitas “em grupo”.
Lembro-me de certo 10 que tirei na prova do Falcão. Aliás, eu não, a classe toda tirou um 10 bem redondo e começava assim a desenhar a moldura do certificado do dia 18. Isso foi motivo de um orgulho besta pra danar. Houve quem desdenhasse do nível da prova, mas, um dez é sempre um dez. Estava felicíssimo e orgulhoso de mim mesmo, então, liguei pra casa e contei à minha esposa sobre a minha proeza. Ela me parabenizou, emendando com a seguinte frase, a respeito de nosso primogênito, recém-nascido:
“Hoje o nosso filho aprendeu a tirar a chupeta e recolocar na boca, sozinho!”
Descobri, naquela hora, que aquele meu 10 era um nada. Um cocôzinho. Pequeno. Aliás, pequeno, não. PPC.