UMA COISA ANTES, acontecida passados seis anos
                                                                                                      Escrita no dia seguinte, quarta-feira, quatro de janeiro de 2006.
 
 
O acontecido ao longo do dia, foi uma sucessão de acontecimentos com sucesso, com a minha ação, simplicidade e humildade. Humilde sim, e encarando “com casca e tudo” ou “seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”. Meu Anjo da Guarda me impelia nas ações, em telefonar antes para o Engenheiro da REFESA, para telefonar pra Gina e confirmar que ia, mesmo ela dizendo que “o sistema podia cair, que era dia de outra atividade burocrática, e ela mandou procurar Hamilton e que ela já iria imprimindo a folha minha antes de começar a atividade dela, para adiantar pro Hamilton, e assim foi mesmo. E ele me recebeu, em ar condicionado, atencioso e eficaz. E eu esperei quieta; era como uma cena que eu assistia sem fala, quase só fazendo parte do cenário. Foi assim todo o tempo do dia e das coisas e eu ia só seguindo e fazendo”.
Depois o “alô” ao Engenheiro, virou ele ir comigo na AENFER e me deixou com Milton, que foi outro que fez mais que eu podia imaginar, explicou, mostrou e informou tudo a respeito dos novos direitos com a morte do Sávio:
Os quatro dependentes dele são eu, os filhos e ele próprio.
Vou ter um PLANO DE SAUDE da Empresa AENFER pelo período de cinco anos, sem nada pagar.
Vou ser PENSIONISTA do INSS por morte com o ganho mensal da metade da aposentadoria dele, Sávio.
 Eu que    recebia R$ 1.500,00/mês passarei a receber cerca de R$ 2.500,00/mês.
A outra metade será da companheira dele; e quando esta morrer, se assim ocorrer, eu serei a recebedora da       parte dela também. Não que eu deseje isto, Deus queira que não, mas isso trás um sentimento de justiça...
         Que o plano de saúde dos meninos foi cancelado pelo regulamento legal da AENFER.
         Que Sávio tem uns pequenos dinheiros e que tudo será visto, e dividido entre eu e os três filhos.
         E eles falaram com pena do Sávio ter morrido, que vão anunciar pros “amigos da sinuca”
 e pros colegas   de engenharia e anunciar no jornalzinho da empresa. Ele ia mensalmente lá pagar e   papear...
 A esta altura eu já estava bastante perturbada, precisando porto para me atracar.
 Tomei um táxi e fui pro Gabriel na Travessa, dar estas boas novas, que até me esqueci de contar tais.

O motorista, bem humorado, de camiseta, em carro próprio e bom, falando coisas boas, puxou conversa animada, mas eu tava mais para sentir e entender do que falar; papeei também um pouco contando da minha situação ali, naquele momento de vida, e ele disse se virando pra trás: ”Viuvinha”! Eu concordei: é.assim “até que a morte nos separe”. Falou direto ao meu coração, é como se fosse carinho e desejo
.Desejo de mim! Eu!
 E eu me senti também desejosa por ele, por aquele homem desconhecido, limpo e sensual e braços de pelos macios, e boca gulosa e sabida das coisas. Separamo-nos sentindo pena do encontro quase. E me deu seu telefone insistindo de eu ligar. Prometi: sim.

E ele: “me dá um beijo”.

E eu dei um beijo. Um bom e bem sincero dado em sua face, que ele virou querendo colher na boca, e quase foi...

Perguntei sua idade: sessenta e três, disse ele. Eu aprovando: “ta bom” e saí alegre pra cachorro daquele carro, mas antes de sair, enquanto pagava, peguei seu braço gordo saudável e cabeludo, num gesto rápido, mas seguro apreciando o pelo e aquele braço bom de homem, pensando e sentindo como seria bom ser abraçada por aqueles braços.


Eu não sei de mim mesma...

Mas a alegria de viver, o desejo de coisas boas, o sabor das coisas plenas, entrei na Travessa ao encontro do meu filho para contar as novidades da REFESA e da AENFER, mas disse a ele:
 
 Levei uma cantada,
  e também cantei,

dei um beijo nele, no motorista do táxi!