Será sempre assim?
Será sempre assim?
Sempre que se aproxima o Natal, as emoções afloram e tudo se transforma, é magia, puro encantamento. Ainda não choveu, a seca é rigorosa e o calor é quase que insuportável, mas os pássaros cantam a cada novo amanhecer, contrariando todas as previsões, a minha orquídea japonesa que há uma semana atrás não passava de espessos galhos secos, ganhou vida nova, vestiu-se de rica folhagem verde e deu seu fruto belo e perfumado, orquídeas lindas e perfeitas como se acordassem de um sonho sonhado na noite de Natal...
Ainda faltam alguns dias noites, um tempo que nos afastam da realidade e dos sonhos, um cenário mais que perfeito de tantos desejos, ânsias, esperanças, assim como as chuvas que escorrem nos ralos, os grãos de areia que se esvaem entre os dedos e, vidas que se dissipam. Sim! Existências de rostos anônimos abandonados ao tempo, pessoas de cujos olhares frêmitos olham para o horizonte a espera da nau salvadora, caras que fixam seus olhos no firmamento em busca de uma estrela que se chame milagre, de uma galáxia que seja só amor... Corpos descarnados, peles ressequidas pelo vento e curtidas no sol, suarentos, cabelos desgrenhados, trajes em farrapos, de andares trôpegos, quase que robóticos, não pela idade, mas pelo sofrer, pelo abandono de terem sido jogados ao esquecimento pelo poder pátrio, pela família e os amigos. Ah! Esses nunca foram. Mas, nós, que somos seres tão iguais, tão parecidos e, até semelhantes, com as nossas fraquezas, erros e virtudes e até mesmo nas linhas percorridas e a percorrer, que em cada esquina, estrada ou mesmo ato da vida, nos esquecemos um pouco de nós mesmos e nos abandonamos mais e mais... Sei que ainda há tempo, essa réstia de esperança, esse lampejo de alegria de ainda poder caminhar, de ainda ter sentimentos nobres, quase que humanos, de ter vontade de abraçar aquele irmão, irmã, que a lacuna do abandono, da loucura e da insanidade os fez diferente e, na quase eloquência de seus atos, sendo vermes se sentirem estrelas solitárias em um único céu por eles imaginado, bailam sobre ventos e nuvens e de cima nos veem e, com suas bocas a esboçar sorrisos de felicidades em um Natal que eles nem sabem existir, e você, sabe?