Sua desgraça é a minha alegria.
O título acima foi copiado da coluna “Camisa 12”, do Eduardo Tironi (Jornal Lance! – 18/04/2012). Ele termina sua coluna dizendo que “hoje, o torcedor tem gastado sua energia e perdido seu sono mais pelo fracasso do outro do que pelo sucesso do time que ele diz amar”. É verdade.
Eu confesso: Ver o Flamengo perder me dá muita alegria. E naquela noite da eliminação na Copa Libertadores, eu estava me preparando para mais uma grande comemoração. Cheguei a esboçar alguma coisa, mas um olhar da minha filha Isabelle, que torce pelo Flamengo, me jogou um balde de água fria. Que espécie de pai sou eu? Como posso vibrar de tanta alegria vendo uma expressão de decepção no rosto da minha filha? Foi difícil, mas me contive e vibrei só um pouquinho.
Hoje quando li a coluna do Eduardo Tironi, voltei a pensar no assunto. Infelizmente somos assim mesmo. No fundo, a desgraça dos outros quase sempre nos dá uma pontinha de prazer. Principalmente se esse outro é um desafeto nosso, ou é alguém de quem temos inveja, por ser melhor que nós.
Vibramos quando um criminoso vai preso. Se ele morre em um confronto com a policia, nossa alegria é proporcional à quantidade de balas que ele leva. Quando um político corrupto vai preso, o que é uma raridade, ficamos com a “alma lavada”. Quando nosso chefe chato é demitido, não pensamos na família dele. Quando um Pastor comete um deslize e cai quase achamos que somos Deus, por que não fomos nós. Quando um membro de nossa igreja comete um erro (não cometemos nenhum) queremos que ele seja imediatamente disciplinado. Enfim, ver a desgraça do outro é a nossa alegria.
Paulo nos ensina: “alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram” (Rm 12:15). Você já viu alguém que almeja muito uma função importante na empresa, se alegrar com o companheiro que conseguiu justamente aquela vaga que deveria ser sua? Digo alegrar-se de verdade, não aquela alegria fingida. É muito raro. Pense bem. Quantas vezes você já viu? Agora, ver alguém se alegrar com a derrota do outro, vemos a toda hora, não é verdade?
Imagine se você puder ficar lá do céu, se é que vai para lá, olhando para o inferno. Provavelmente verá alguém e pensará: “Bem feito”. Somos assim. Não perdemos uma oportunidade de vibrar com a derrota do outro.
I João 4:20 nos lembra que “se alguém afirmar: ‘Eu amo a Deus’, mas odiar a seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê”. Nem sempre chega a ser ódio esta alegria pela desgraça dos outros, mas, sendo ódio ou não, é certo que precisamos mudar de atitude. Compaixão foi o que ensinou Jesus Cristo, e precisamos praticar se somos discípulos dele.
Ok. Não vou mais torcer pela derrota do Flamengo. Só vou torcer para que o outro time vença o jogo, mesmo se for um time da Argentina. E não precisa ser de goleada. Se não houver problemas com saldo de gols, pode ser um simples meio a zero.