COMO A GENTE SOBREVIVEU?
Quando criança, descalços, corríamos pelos campos, crivando os pés de rosetas, brincávamos nas poças d'água que a chuva provocava, comíamos frutos no pé, dormíamos sem ventiladores, sem repelentes para mosquitos, tomávamos água de poço, lavávamos os cabelos com sabonete, secando-os ao sol. E não adoecíamos! Quando muito uma pequena diarreia pelo excesso de frutas. Nossas artes tinham como consequência um "não" categórico, uma palmada na bunda, as vezes uma varinha nas pernas. E não ficamos traumatizados por isso! Quando muito íamos atrás de uma porta ou longe de casa dizer enviar um nome feio para nossa mãe, esperando que ela não ouvisse, é óbvio!
Adolescentes ouvíamos música em radinhos de pilha e, com muita sorte, uma eletrola e dois ou três discos de vinil. Ou fitas K-7 num pequeno gravador portátil. Nos bailes, regados a orquestras ou conjuntos que pipocavam na época, flertávamos até doer os olhos, as paqueras se sucediam e o primeiro beijo demorava séculos. E isso não impediu de o amor chegar!
Jovens, estudávamos e trabalhávamos, aprendíamos nas revistas e livros que devorávamos, muitos deles escondidos dos pais, especialmente revistas que falavam sobre sexo, assunto considerado "non grato" pela geração que nos antecedeu. A ferro e fogo derrubamos tabus centenários, reinventamos uma nova sociedade e, apesar de um pouco chamuscados, saímos incólumes. Pouco tínhamos e muito fizemos.
Cadê a TV, o celular, o microondas, a internet, o sexo rápido, o psicanalista, o Rivotril, o consumo desenfreado, o tudo pode? Hoje ninguém vive sem tudo isso. E nós, como sobrevivemos sem eles?