Formigas
Não lembro o que sonhei hoje, mas meu pesadelo foi quando eu estava acordado.
Acordei. Tinha um copo no chão, perto da cama, em que eu havia bebido coca antes de dormir. Levei ele pra baixo pra juntar ao resto da louça, mas deixei em cima da mesma mesmo, por preguiça. Peguei um pão, cortei e passei manteiga. Sentei à mesa pra comer. Minha mãe falava um monte de coisas sobre contas pra pagar e tal. Olhei para o copo que havia trazido do quarto e vi um monte de pontinhos pretos se mexendo. Levei um susto, levantei de sopetão e corri para o meu quarto. Liguei a luz abri as janelas e olhei para o chão, perto de onde eu tinha deixado o copo quando fui dormir. Formigas. Dezenas e dezenas de formigas caminhando em fila indiana. Comecei a suar. Matei uma por uma, mas as desgraçadas sempre voltavam. Varri, passei pano com Veja e tudo, mas elas ainda voltaram.
Não tenho medo de barata, de lagartixa. Não tenho medo de ser assaltado. Não tenho medo do demônio nem de morrer. Tenho medo de formigas. Infinitos pontinhos pretos caminhando em fila, um esperando a vez do outro. Tenho medo de formiga assim como tenho medo de gente. Também tenho medo de vermes. Tenho medo de tudo que anda aglomerado e em monte.
Quando eu morrer eu vou pro inferno, porque fui ruim. Meu inferno vai ser quente, cheio de formigas, vermes, moscas e pessoas se esfregando em mim. E eu nunca vou poder dormir, vou estar sempre sendo tocado, centenas de formigas caminhando sobre meu corpo, devorando minha carne.