CONFESSANDO UM SEGREDO DE QUASE 35 ANOS

Ainda estava batendo a poeira da adolescência quanto voltei ao Rio de Janeiro desde a segunda infância. Das poucas lembranças que restavam percebia que tudo estava diferente, assim como era bem diferente da Fortaleza onde nasci e fui criado. Não havia mais bondes, agora tinha o metrô, coisa que já tinha visto bastante – no cinema e na TV. Achei que era o suficiente para fazer uma aventura no Maracanazinho num domingo de manhã daquela primeira viagem a serviço no novo emprego. Eu era um Trainee. Um garoto, uma aposta do gerente japonês que me admitiu na empresa. De folga, fui sozinho fazer o passeio. Quem nem Pelé, estava hospedado no Hotel Novo Mundo no Aterro do Flamengo, fui à estação do metrô, pertinho. Não tinha ninguém lá. Podem crer, naquela manhã, naquele horário, só eu havia resolvido tomar o metrô na estação Catete.

As telinhas e as telonas me mostraram como era o metrô, mas não como fazia para chegar ao trem. Fui deduzindo. Vi um guichê e comprei dois bilhetes – ida e volta. Perfeito até ai. Aproximei-me das catracas. Não tinha guardas nem fiscais para receber meu bilhete. Tentei girar as hastes. Estavam travadas. Empurrei-as com força, fixas. Depois com mais força, imóveis. Olhei para trás, de lado, pra cima, pra baixo. Ninguém. Pensei em esperar alguém vir e observar como faria para passar dali. Nenhuma vivalma. Segurando o bilhete entre os dedos polegar e indicador, fiquei ali, girando com o corpo tentando encontrar alguém que ajudasse o matuto cearense. De repente, ao balançar os braços, senti que o bilhete foi arrancado da minha mão. A catraca sugou o bilhete por um buraquinho infame. Instintivamente, cerrei o punho e soquei com força aquela catraca ladra duma figa. Roubou meu bilhete, caramba. Posicionei-me para chutar a catraca certo que iria despedaçá-la e resgatar meu bilhetinho sequestrado, porém em meio à raiva e desespero, meu QI elevadíssimo me fez perceber que metade do bilhete surgira num outro buraquinho mais acima da catraca e que uma luzinha verde agora estava acessa. Luz verde...pensei...pensei... luz verde... arrisquei tocar numa haste da catraca, ela girou e eu passei.

Olhei para frente, para trás, de lado, pra cima, pra baixo. Ninguém. Ninguém viu. Ufa!