SE FOR BOA QUE VENHA...

Quando ouço os quero-queros cantar no campo em frente a minha casa, viajo no tempo e me lembro das palavras que minha mãe dizia quando os ouvia:

- “Se for boa que venha, mas se for ruim que vá para o fundo dos infernos”.

Logo fazia o sinal da cruz e ficava muito apreensiva.

Eu, na minha ingênua imaginação não entendia a razão pela qual este fato acontecia. Qual seria a origem desta superstição carregada pelos antigos ao longo dos anos. Costume herdado dos avós que dizia ser o canto das aves um prenuncio de notícias boas ou ruins. Talvez no antigamente pudesse acontecer mesmo a chegada de notícias, mas, com o passar dos tempos não fazia mais sentido o uso deste costume.

O território rio-grandense foi moldado a pata de cavalo e as distancias entre um povoado e outro, ou uma estância e outra era medida por léguas. Não havia nenhum meio de comunicação além de parcos jornais editados nas principais cidades do país e o recebimento de cartas, ”chasques”, por meio dos estafetas à cavalo, do Correio Nacional. Por outro lado, também se atualizavam notícias através da visita que os mascates e vendedores de tecidos e aviamentos traziam às famílias de estancieiros como novidades e dentre estes se ocasionava a “charla” carregada de indagações sobre a vida e os acontecimentos dos grandes centros do país.

O fato é que o quero-quero é o pássaro símbolo do Rio Grande do Sul, considerado Sentinela dos Pampas, pois ao menor movimento estranho ao cotidiano ao seu redor, logo canta estridentemente e promovem revoadas como que denunciando a presença de estranhos invasores ou movimentos.

Quando chegavam os estafetas ou os mascates para suas visitas nas estâncias, logo ao abrir a porteira eram saudados pelos quero-queros que se faziam ouvir nas casas da estância onde os moradores deduziam a chegada de novidades e notícias almejando que fossem as melhores possíveis.

- “Se for boa que venha, mas se for ruim que vá para o fundo dos infernos”.

Nos dias atuais as notícias chegam com a velocidade de luz e nos pegam de surpresa sem termos a chance de desejar e mesmo de apelar para que forças ocultas nos ajudem para que sejam boas. Nossa sorte que as notícias destes últimos meses tem sido muito boas e prometem um ano novo repleto de realizações para nossa cidade.

- ”Se for boa que venha... esta a nossa esperança.