O MELANCÓLICO FIM DOS MORADORES DA ZONA RURAL

“...não adianta chorar o leite derramado...”

A mudança na paisagem é uma constante desde que nosso planeta se desprendeu do Sol. Acontece que com o aparecimento da vida e posteriormente do Homem, o processo foi cada vez mais se acelerando. Aliás, o Homem é o animal que mais contribui para a alteração do Meio Ambiente, tanto no sentido positivo como negativo. Já presenciamos, desde a descoberta do Brasil, várias mudanças radicais em nossa paisagem. Os canaviais no Nordeste do Século XVII, os cafezais em S. Paulo, a zona de mineração em Minas Gerais, a destruição da Mata Atlântica quase por completo, o aparecimento das mega metrópoles e assim por diante.

O fim desde ciclos econômicos sempre provoca nos Homens, principalmente como é o meu caso, um profundo estado de melancolia. Ninguém gosta de assistir aquilo que criou ou conviveu entrar em processo de decadência.

Principalmente em nossa região a vida do Homem do Campo está praticamente extinta. Assim desapareceram: as festas dos padroeiros nos “patrimônios”, os bailes na “tuia” aos sábados, a viagem de “jardineira” nos fins de semana para as compras na cidade, as festas de casamento dos filhos dos compadres da vizinhança, a missa de mês nas capelinhas dos bairros distantes, etc. Não ouso, e ninguém pode, dizer que tudo piorou ou melhorou. Podemos sim, dizer que “mudou”. Tudo no seu tempo tem suas vantagens e desvantagens.

Deixou de existir o Roceiro e em seu lugar entrou o Empresário Rural. E o pior: Não houve evolução na vida do individuo. Houve uma troca de personagens. Saiu o Roceiro entrou o Empresário. O Empresário está aqui, mas e os Roceiros? Com estes aconteceu uma espécie de “Diáspora”. Foram pulverizados pelas cidades próximas, sem um mínimo de planejamento. Os Velhos Patriarcas não mais cuidam da hortinha, das galinhas e dos porcos onde nem sentiam seu passar pelo tempo. Tudo era rápido. E agora, como que apoiados nos escombros de um bote salva vidas, agarram-se nas mesinhas e cartas do baralho na pracinha. Não esperam nada porque sabem que nada está porvir. E seu passar pelo tempo ficou lento e melancólico.

As coisas em certos aspectos ficaram mais fáceis. O arroz e o feijão são retirados da prateleira dos supermercados em segundos. É certo que perdeu o encanto do plantio, do trato e da colheita. Os “mutirões” com os vizinhos regados a “Pinga” e “Causos” contados nos eitos, praticamente desapareceram. Os jovens estudam, quase sempre a noite, em Escolas Públicas, para poder trabalhar (quando encontram emprego) durante o dia. Quando não, levantam tarde e no tempo restante se espalham com amigos pelas calçadas, jogando conversa fora.

Sentimos a saudade das cenas em que fomos astros principais e agora nem sabemos se teremos um simples papel de coadjuvante. Para a sociedade em geral fica a dependência do sucesso do ciclo econômico. Se tudo der certo alguém no futuro poderá contar aos descendentes o que foi esse período histórico. Mas é provável que outra vez a melancolia ocupe o pano de fundo. É sempre assim que termina a novela da Humanidade. (oldack/26/11/012)XXX.

Oldack Mendes
Enviado por Oldack Mendes em 02/12/2012
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