Pintassilgo
Sempre fui encantado por passarinhos, e lá pelos 12 anos tive muitos deles. Lembro de um pintassilgo, criaturinha linda, com o peito intensamente amarelo contrastando com a cabeça e pescoço negros e brilhantes, grande cantor. Costumava cantar muitíssimo, uma longa cantiga muito alegre que se repetia inúmeras vezes ao longo do dia.
Certa vez encontrei algo estranho no bichinho; uma espécie de sujeira em seu corpo. Observei com atenção o que poderia ser alguma espécie de parasita, mas constatei ser uma peninha branca, destoante das demais. Fique surpreso, mas sem maiores preocupações.
Com o passar do tempo fui percebendo o surgimento de novas penas brancas, que constituíram um colar entre o pescoço negro e o peito amarelo, logo abaixo da primeira pena descorada que ainda se destacava do fundo preto.
Depois, mais penas brancas foram aparecendo, dando à sua cabeça um aspecto pedrês, salpicado de preto e branco; o passarinho estava grisalho. Percebi, só então, que o bichinho estava velho. Seu corpo tinha perdido o brilho, o amarelo estava esmaecido, entremeado de penas brancas; também
tinha perdido a vivacidade, mantendo-se muito quieto; foi reduzindo a intensidade e a alegria do canto, até que se calou. O pintassilgo estava velhinho; quase todo branco, sem brilho, amuado e quieto.
Um dia, no entanto, depois de um longo silêncio, o pintassilgo acordou feliz, como na juventude. Cantou louca e intensamente, chamando enorme atenção ao contrastar a alegria de seu canto com o silêncio mórbido dos dias anteriores. Naquele dia, ele cantou como nunca, e seu canto era ainda mais forte e longo que de costume; parecia um milagre, o passarinho tinha rejuvenescido., voltava a cantar com vivacidade renovada.
Mas, no dia seguinte, o pintassilgo não estava mais no poleiro, quando amanheceu ele já não vivia; aquele tinha sido o seu último e grandioso espetáculo.