UMA FESTA NO INTERIOR

UMA FESTA NO INTERIOR

Era noite de sábado, final do mês de novembro, época das primeiras águas. Naquela cidade do interior, chovia a cântaros antes da festa começar. Os convidados esparsamente começavam a chegar, uns sob agasalhos, outros debaixo daquela forte chuva, sem nenhuma proteção, o que os deixava encharcados sem nenhum conforto que os agradasse por enquanto naquele festivo salão de forró. Mesmo com a festa já em andamento há algumas horas, só muito depois da meia-noite a chuva enfim deu uma trégua, mas deixando aquele ar frio e úmido que batia em cheio no rosto de cada um que ali se encontravam, principalmente os que de vez em quando saíam para a calçada ou para o terreiro lamacento para fumar ou beber uma cerveja conservada ao gelo em uma caixa de isopor ou uma dose de pinga com tira-gosto invariavelmente de laranja e limão, numa banquinha simples montada improvisadamente lá na extremidade do terreiro ao lado de uma velha cerca de arame farpado. E também para namorar. E o sanfoneiro agora puxava o fole sem parar e cantava músicas de um variado repertório, enquanto os pares da dança no arrasta-pé rodopiavam pelo salão iluminado por candeeiros postos a certa altura, especialmente em armadores de rede fincados na parede. E aquele forró foi até o amanhecer, momento em que os primeiros raios da manhã já começavam a dar um colorido verde e brilhante à paisagem de início de inverno próxima àquela casa sertaneja, palco de mais uma alegre e pacata festa do interior ao som agradável da sanfona, da zabumba e do triângulo, trio de instrumentos típicos e indispensáveis para a prática do animado e autêntico forró pé-de-serra; depois foi acrescido o pandeiro. Finalmente, todos os participantes daquela festa agora iam embora saudosamente por vários caminhos e veredas deste sertão, onde inúmeros pássaros gorjeavam nas cercas, nos capinzais e árvores sob um já relativamente quente sol nascente. É bem verdade que no centro da cidade, assim como em seus bairros adjacentes, as festas das quais participávamos, na época, eram mais do tipo de clubes, boates, danceterias... Ao som de conjuntos, ou grupos musicais, bem como com radiolas/vitrolas ou toca-discos. Eram as tertúlias da época, festas dançantes, tempos também da discoteque. Entretanto, devemos considerar que seja qual fosse o estilo dessas festas dançantes, o mais importante era o divertimento e o lazer atrelados a paz e a tranqüilidade. E aquele forró também foi bom demais. Uma verdadeira e autêntica festa do interior.

Do meu livro Memórias do Tempo

Edimar Luz

Escritor/cronista, memorialista, poeta, professor e sociólogo.

Picos, 2009.

Edimar Luz
Enviado por Edimar Luz em 01/12/2012
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