Nota de falecimento

Morreu a fé na Justiça

A relativização dos atos do Judiciário através de sucessivos e infindáveis recursos e apelações está tornando a nossa Justiça totalmente sem crédito. Assim se pode inferir do já cansativo e espetaculoso caso Eliza Samúdio. Pra começar, nem se tem certeza mesmo de que a mulher morreu e já tem gente sendo condenada pelo homicídio. O que é certo, inquestionável e preocupante, é a forma pela qual as coisas estão sendo administradas, se é que a palavra se aplica ao caso.

O Poder Judiciário, pilar de sustentação do Estado Democrático de Direito, vem tendo seus atos ridicularizados. O que uma juíza e um corpo de jurados acima de qualquer suspeita decidiram, é tratado como erro, pelo mero desejo da defesa de um dos acusados, de manipular a situação em seu favor. O que mais se viu neste julgamento até o momento, foram manobras espetaculares, abrindo caminho para que o inconsciente coletivo relativize definitivamente o conceito de Justiça.

O mesmo pôde ser observado nos dois casos que alimentaram os noticiários em nível nacional nas últimas semanas. Os julgamentos do “mensalão” e do caso “cachoeira” deixaram claro, mais que um dia ensolarado: as pessoas não respeitam as leis deste país. Alías, nos remete aos moldes do comportamento da estrutura perversa delineada por Freud, no qual a regra existe para ser burlada. Criamos leis que sabemos que não serão cumpridas. Temos legislado para uma sociedade que não existe ainda e que certamente não existirá, diante do desmoronamento dos valores éticos e morais facilmente observável em nossos dias.

Que podemos esperar de um país no qual o Judiciário é questionado a todo instante, o Legislativo gasta a maior parte do pouco tempo em que trabalha usurpando a função investigativa da Polícia Federal e o Executivo vive bombardeado por acusações de envolvimento em desvios de dinheiro e manipulação do poder?

Que podemos esperar de um país onde se candidatam a cargos no Legislativo, mulheres sem roupas e homens sem letras; onde o errado é certo e o certo certamente errado; onde jogadores de futebol ganham medalha da Academia de Letras; onde a imprensa dá voz a bandido e esculacha a polícia com todas as letras; onde é certo ser esperto e reagir ao esperto é errado?

Que podemos esperar de uma sociedade que se esconde por detrás de desculpas esfarrapadas para não se implicar na modificação do estado das coisas; que queima ônibus se um policial erra, mas não move uma palha diante do marginal que lhe toma o pão de cada dia todos os dias? Vão me dizer que quem queima ônibus não usa ônibus, ou seja, que quem fez isso foram os bandidos e que são minoria no local. Aí é que piora, pois a maioria tinha a obrigação de reagir e impedir isso. E não o fazem porque gostam das coisas como estão, talvez porque obtenham alguma vantagem nisso.

Enfim, para dar sossego ao leitor que gastou seu tempo comigo hoje, deixo apenas o apelo à reflexão e se possível, à ação. Cabe a cada um agir. Não podemos nos eximir da responsabilidade e depositá-la apenas na conta dos governantes, que em ultima análise, saíram do mesmo lugar onde ficamos. Urge que façamos algo em defesa do torrão que habitamos, se é que há entre nós homens e mulheres melhores que esses que nos causa tanto estranhamento.

Weverton Duarte Araújo
Enviado por Weverton Duarte Araújo em 30/11/2012
Reeditado em 30/11/2012
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