Coisas ouvidas
Da terra no norte se ouvem as mesmas notícias, do sul os mesmos códigos, do leste e oeste a mesma fala: os segredos do silêncio de exíguas e paradoxais vidas. A fala das faces que morrem a cada olho aberto, a cada manhã que chega, a cada passo tomado. A expressão do rosto já não revela nada, não há sorriso, nem choro nem ódio, nem raiva, e –pior- nem esperança. Os corpos andantes são apenas pássaros negros oriundos da noite mental, pois a sabedoria humana já não sacia. Havia pequenas gotas de luz, em cada cabeça havia um par desses olhos brilhantes. Brilhavam uma luz quase extinta; a luz da causa, do onde ou de alguma emoção, sim, uma luz representava um quê de se importar e de ser importante. Mas a luz foi secando, as pequenas gotas que ainda restavam evaporaram. A visão cega era mais proveitosa, quanto mais seco, mais oco, menos aflição.
Era dia na selva de pedra rodeada pelo mar da dor. Era o mundo.