NUM DOMINGO DE SOL
NUM DOMINGO DE SOL
Ao contar a história do nosso rio Guaribas, lembrei-me do episódio de uma manhã de domingo do primeiro semestre do ano de 1979 em um poço grande e relativamente profundo do leito do Guaribas localizado em igual distância entre os bairros Baixio da Ipueiras, Junco e Pedrinhas. Esse episódio foi, na realidade, o afogamento de um menino desconhecido lá do bairro Junco, um garoto de aproximadamente oito anos de idade, que, conforme se ficou sabendo, andava em companhia de outros maiores também daquele mesmo bairro, o qual foi salvo por mim. Aliás, aquela foi a única vez que vi aquela criança, e, de fato, desmaiada. Mas depois fiquei sabendo que milagrosamente ele sobrevivera.
Num determinado momento, por volta das 11 horas ou mais, talvez quase meio-dia, um dos seus amigos, em grande escarcéu saiu correndo e avisando a todos que ali estavam presentes, que, por descuido deles, o menino caíra num declive abrupto e estava submerso nas águas turvas e fundas de um dos trechos do poço, de mais ou menos três metros de fundura; o qual era circundado parcialmente por diversos barrancos do lado oposto aos bancos de areia daquela praia fluvial.
A partir daquele momento, inúmeras eram as tentativas de todos os que sabiam mergulhar e nadar, inclusive eu que aprendi desde pequeno. De repente, como um milagre, depois de ter efetuado também vários mergulhos em meio aos vários nadadores, consegui localizá-lo desfalecido no mais fundo daquele poço do rio, resgatando-o e levando-o até a superfície. A partir daí todos os que lá estavam, em grande aflição e alvoroço tomaram de conta e ajudaram no salvamento daquele menino que, desmaiado, foi posto deitado na areia e em seguida transportado urgentemente ao hospital no carro de um empresário que se encontrava numa roça ali das proximidades.
Havia cerca de cinqüenta pessoas no local, naquela manhã de sol, entre homens e mulheres, sendo adultos, jovens e algumas crianças. Eram banhistas dos bairros Ipueiras, Baixio da Ipueiras, Junco, Pedrinhas e até do centro da cidade de Picos, entre outros, que, buscando uma forma de lazer, aproveitavam as praias fluviais do Guaribas no período pós-enchentes, quando se formavam também em seu leito grandes e profundos poços. Até uma charanga da cidade outro dia de domingo lá também se fez presente. Esse fato ocorreu mais ou menos dois ou três meses após eu ter concluído o Serviço Militar no Exército Brasileiro, no 3º BEC, onde tive a honra e o orgulho de durante um ano servir à Pátria nas fileiras do Exército; e também pouco antes de eu ir estudar no Recife, na nossa Veneza Brasileira.
Em última instância, quero aqui ressaltar que depois de tanto tempo que ocorreu aquele fato, seria bom conhecer aquela pessoa que um dia no já relativamente longínquo ano de 1979, tive, graças a Deus, a felicidade de conseguir salvar de trágico e fatal afogamento. Isso, evidentemente, apenas para efeito de cumprimentação.
OBS: Do meu livro Guaribas: Lembranças e Histórias de Um Rio
*Edimar Luz, é escritor/cronista, memorialista, poeta, compositor, professor e sociólogo, formado em Recife-PE. Picos - PI, 12/01/2010.