O QUE A MEMÓRIA GUARDOU
Esse seria seu décimo primeiro natal, fazia poucos dias que ela completara 11 anos de vida. Pensou nisso, enquanto pulava amarelinha, na rua de terra.
Não demorou para anoitecer, e assim, a brincadeira teve fim. Era hora de ir para casa.
Ao se despedir da amiga, começou a caminhar, e foi inevitável passar em frente a casa que fora de seus avós, até poucos meses atrás. Esticou os olhos, e encolheu o coração. O jardim, já não tinha o mesmo perfume, nem o colorido que as flores de sua avó lhe davam. E as janelas da sala, mostravam que tudo estava quieto e no escuro. Ah, pensou a menina, não era assim, quando meus avós moravam aí. Nessa hora tudo estava aceso, repleto de vozes, a conversar, contar, sorrir, e depois rezar, antes de dormir.
Em silêncio, caminhou até a porta de sua casa, pelo caminho, chutava toda pedrinha que encontrava, pensando com isso aliviar a saudade.
Entrou em casa, e sua mãe, logo percebeu a tristeza estampada no rosto da menina. A mãe sabia que o motivo daquela tristeza, atendia pelo nome de saudade. Então, tentou animar a filha, lembrando-lhe que logo iriam cear, afinal era véspera de natal. E os presentes que ela havia pedido, quem sabe, não estariam debaixo da árvore.
Enquanto se arrumava, para a ceia, a menina pensou com melancolia que já fazia algum tempo, que não acreditava mais em papai noel.
Mesmo assim, ficou feliz ao ver a linda boneca "Dorminhoca" toda de branco, que a mãe com carinho colocou em baixo da árvore de natal. E no braço da boneca, estava seu primeiro relógio de pulso. Ela havia desejado muito ganhar um. Afinal já sabia ver as horas.
A menina quis muito parecer contente e agradecida, mas acho que falhou. Sentia muita falta dos avós que haviam se mudado da vila.
Assim, passou aquele natal. Com a menina pergutando porque os avós tiveram que ir morar tão longe.
O natal seguinte chegou. Não foi esperado ou programado, por ela, nem por ninguém da família. Mas mesmo assim, ele chegou.
Ela não tem lembrança de quase nada do natal de 1964, se esforça, busca na memória. Mas memória é coisa traiçoeira, só guarda o que quer. E nunca se sabe o que ela escolhe guardar.
Só de uma coisa a menina se lembra, que nesse natal, a mãe, não estava lá, para lhe acarinhar, nem minimizar qualquer frustação.
E diferente dos avós, a mãe se mudara para um lugar sem endereço, não havia jeito de matar a danada da saudade. Essa é a únca lembrança que a memória guardou daquele natal.
(foto da autora)
Esse seria seu décimo primeiro natal, fazia poucos dias que ela completara 11 anos de vida. Pensou nisso, enquanto pulava amarelinha, na rua de terra.
Não demorou para anoitecer, e assim, a brincadeira teve fim. Era hora de ir para casa.
Ao se despedir da amiga, começou a caminhar, e foi inevitável passar em frente a casa que fora de seus avós, até poucos meses atrás. Esticou os olhos, e encolheu o coração. O jardim, já não tinha o mesmo perfume, nem o colorido que as flores de sua avó lhe davam. E as janelas da sala, mostravam que tudo estava quieto e no escuro. Ah, pensou a menina, não era assim, quando meus avós moravam aí. Nessa hora tudo estava aceso, repleto de vozes, a conversar, contar, sorrir, e depois rezar, antes de dormir.
Em silêncio, caminhou até a porta de sua casa, pelo caminho, chutava toda pedrinha que encontrava, pensando com isso aliviar a saudade.
Entrou em casa, e sua mãe, logo percebeu a tristeza estampada no rosto da menina. A mãe sabia que o motivo daquela tristeza, atendia pelo nome de saudade. Então, tentou animar a filha, lembrando-lhe que logo iriam cear, afinal era véspera de natal. E os presentes que ela havia pedido, quem sabe, não estariam debaixo da árvore.
Enquanto se arrumava, para a ceia, a menina pensou com melancolia que já fazia algum tempo, que não acreditava mais em papai noel.
Mesmo assim, ficou feliz ao ver a linda boneca "Dorminhoca" toda de branco, que a mãe com carinho colocou em baixo da árvore de natal. E no braço da boneca, estava seu primeiro relógio de pulso. Ela havia desejado muito ganhar um. Afinal já sabia ver as horas.
A menina quis muito parecer contente e agradecida, mas acho que falhou. Sentia muita falta dos avós que haviam se mudado da vila.
Assim, passou aquele natal. Com a menina pergutando porque os avós tiveram que ir morar tão longe.
O natal seguinte chegou. Não foi esperado ou programado, por ela, nem por ninguém da família. Mas mesmo assim, ele chegou.
Ela não tem lembrança de quase nada do natal de 1964, se esforça, busca na memória. Mas memória é coisa traiçoeira, só guarda o que quer. E nunca se sabe o que ela escolhe guardar.
Só de uma coisa a menina se lembra, que nesse natal, a mãe, não estava lá, para lhe acarinhar, nem minimizar qualquer frustação.
E diferente dos avós, a mãe se mudara para um lugar sem endereço, não havia jeito de matar a danada da saudade. Essa é a únca lembrança que a memória guardou daquele natal.
(foto da autora)