Uma comparação entre o bom senso e o autismo: dois vetores de vida e de vivência contínua

Silvânia Mendonça Almeida Margarida

Muitas pessoas que lidam com autismo se pegam surpreendidas por esta síndrome ignorada e, por vezes, não entendida. São pais que dão palestras, são pais que choram, pais que viram psicólogos e pais que refutam a síndrome e não a aceitam. As mais diversas categorias de convivências diárias, representadas no nosso cotidiano com autismo. A aprendizagem na convivência com o autismo não é algo fácil de assimilar. Reconhecer que de uma hora para outra, nova vida virá e nos fará mais sofridos não é tarefa fácil para nenhum pai ou mãe.

Muitas engendragens e caminhos podem ser seguidos para a visualização do que a vida nos apresentou. Proporcionou uma síndrome que pouco conhecemos do seu lado espiritual, assim como, pouco conhecemos das suas lides diárias. Culpar a algo ou alguém é ter a plena certeza ou convicção, que, cientificamente, há algo já provado. Alimentos com glúten, sem glúten, remédios controladores do pensamento e da tarefa do dia a dia do autismo, terapias, educação diferenciada, escolas, métodos e todas os artefatos de ilusão podem ser expectativas aliciantes com a síndrome de autismo, mas apenas são expectativas. Não há nada de concreto. O autismo é ainda uma síndrome ignorada pela sociedade e pelo Estado. Mesmo com o Projeto de Lei 1631/11 criando uma política nacional no Brasil, em termos globais, ainda é muito pouco o que se pode fazer.

Para todos os seres humanos a maior arma de efetivação de certa conduta é a de preparar a própria mente para a plena função do bom senso. Saber se conduzir com a devida sensatez, em todos os momentos de decisões concernentes às atuações sociais, é ter garantido um substancial sucesso no relacionamento com os indivíduos de qual quer comunidade.

Para acionar o bom senso, necessariamente, devem ser levado em conta vários fatores em que venham propiciar uma escolha de ação adequada ao procedimento a ser tomado. O principal cuidado é o de conhecer profundamente o que se tem como objeto em mira de julgamento, e, desta forma, distinguir entre as hipóteses, supostamente razoáveis, aquela que mais se enquadre ao processo de efetivação do caso em questão.

No preparo do indivíduo para o procedimento em pauta, há um longo caminho a percorrer sendo que o mais substancial se coloca na Educação. A educação constitui-se no suporte para todas as atitudes humanas. Ela estabelece a ponte entre o sujeito e a ação, sem deixar sombras de dúvida entre ambos os polos, em vista de marcar encontro com o sucesso por conter o esclarecimento preciso para as atitudes objetivadas na mente.

O ponto que mais pode distanciar o “bom senso” de uma plataforma de vida plena e sensível é um julgamento apressado, fora de padrões pré-analisados, ou com reflexões particulares de interesse próprio. Todo julgamento deve ser transparente, com a intenção de trazer à tona a verdade sem mácula ou confundida por falsas conclusões. Quando desviado da escolha priorizada pelo acerto moral, redunda em profundos prejuízos para o próprio indivíduo em julgamento e, para a sociedade em que milita.

Pelos presentes enunciados, chega-se à conclusão de que conviver é preciso e ter vida plena aprendendo a síndrome ignorada, ou seja, o autismo. Conviver, porém em alta com teses elaboradas em termos de “vida plena”, torna-se necessário um substancial preparo em que a arte de se relacionar se torne colorida pelas atitudes e hábitos saudáveis, isentos das patologias sociais. Tudo se torna realmente saudável contendo um suporte para receber os impulsos na caminhada para plataformas de maiores conquistas, se houver em função um “bom senso” regulador destas atitudes e hábitos dos indivíduos. Para René Descartes "O bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída: todos pensamos tê-lo em tal medida que até os mais difíceis de contentar nas outras coisas não costumam desejar mais bom senso do que aquele que têm."

Numa comparação contínua entre ter uma filosofia de vida e aceitar o autismo, vivenciá-lo, não somente nos dias previstos de festa, é buscar este bom senso autístico comedido.

A maior parte das pessoas luta de uma forma especial a favor do autismo com a intenção de conquistar o “bom senso”. Depois de grata experiência descobre-se mais tarde que para o autismo não existem irremediáveis erros. A sabedoria deve ser constante, a cada pensamento, a cada nova vivência, a cada nova luta. É o que conduz o "sábio", ou seja, os pais e educadores a descobrir caminhos que são normativos para levar o autista a aprender a discernir os valores apropriados a uma forma de vida adequada com vista na devotada evolução. Mesmo que o autista não tenha consciência disto. A partir deste procedimento, gradativamente, através da inteligência em função, pelos pais, representantes e curadores dos seus filhos, frente à Nação, frente à sociedade civil e frente ao Estado, os bons conceitos vão se estabelecendo. As aquisições de recursos especiais ligados ao autismo que levam à sabedoria se processam conduzindo o indivíduo a um patamar transcendente, organizado de forma a propiciar salutares maneiras de refletir sobre o mundo, sobre a sociedade e sobre si mesmo. A vivência destes valores adquiridos se amplia, propiciando ao autista um modo de se interagir na sociedade com boas maneiras de relacionamento, trazendo para o meio, a melhor maneira de se relacionar.

A Sabedoria humana para o autismo seria então a capacidade que ajuda os pais de autistas a identificar seus erros e os da sociedade, corrigi-los com a devida dignidade e respeito. Tratar o semelhante como gostaria de ser tratado. Zíbia Gaspareto questiona uma forma de vida em que o bom senso funciona positivamente: “Nosso subconsciente trabalha na materialização de nossas crenças. Ele não tem senso de humor. Faz sempre o que acreditamos. Não falha. Dessa forma, o fracasso não existe. Você foi sempre um sucesso! Sua vida é obra sua. Você é responsável por suas experiências. Mesmo aquelas que parecem não depender de você foram atraídas por sua forma de pensar. As coisas não vão bem? Só colhe infelicidade? É hora de perceber como você consegue fazer isso. Certamente não escolheu a atitude adequada para obter bons resultados. Mudando essa atitude, tudo se modificará. A vida deseja que você desenvolva seus potenciais de espírito eterno e aprenda a ser feliz. A felicidade é nosso destino e só o bem é verdadeiro”. Dois vetores se fazem entrever para a felicidade de ser pai ou mãe de um autista: a felicidade do antes e do depois. O resto, com certeza, virá por acréscimo. O tempo é o senhor de toda sabedoria, de toda a certeza de que pais de autistas, assim, como seus filhos podem ser felizes.

Silvania Mendonça
Enviado por Silvania Mendonça em 30/11/2012
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