Quando se trata do Amor não há certezas

O coração bate, será esta uma das poucas certezas que lhe prova estar viva? Mary andava fria, desperdiçando noites inteiras andando pelos cômodos do apartamento como que a ler nas paredes os sinais que antes a PAIXÃO não lhe permitia decifrar. Como podia ser tão tola? Acreditar naquele sorriso, nas juras, nas flores acompanhadas de uma caixa de Ferrero Rocher e entradas para a última sessão de uma comédia romântica na qual com certeza não prestaria muita atenção.

Ela sente o gosto da desilusão e sabe que é inútil tentar diluir ou amenizar o amargor com uísque, mas a noite seria longa então a garrafa lhe faria companhia. Passa levemente a mão nos cabelos, se olha no espelho do banheiro. Um filme passa em sua cabeça até retornar ao presente, vinte e sete anos bem vividos e não se arrepende de nada, ou quase nada e talvez seja só a garrafa já pela metade que tenha trazido esse conforto ilusório de não ter arrependimentos.

A vida é tênue, não há curso preparatório para isso, você não tem como fazer módulos que se dividam em etapas onde vai aprender a sentir, a pensar, a ser forte, a ser dona de casa, mulher, filha, mãe, não há um pré- curso para EXISTIR, você apenas existe pelo simples fato de raciocinar e se reconhecer enquanto PERSONA.

Mas Mary não precisava de filosofia naquela altura da madrugada, o relógio marcava 01h17min, a solidão tornava o mundo imenso, por isso ela não conseguia fechar os olhos para dormir. Tudo tem começo, meio, mas por que o FIM? Ela caminha até a varanda do 17° andar e ascende um cigarro, sopra toda a raiva de uma vez e CHORA baixinho para seu coração não ouvir... Tarde demais ninguém a ensinou a separar as coisas, está tudo junto ali naquele instante, como todos os papéis que ela representa por ai mundo a fora, como as flores, o chocolate e o cinema.

O tempo é uma das condições mais misteriosas que rodeia a vida humana, podemos reviver a infância em segundos, sentir o cheiro do bolo de fubá feito pela avó na adolescência, é possível sentir o beijo de um amor sincero e a solidão de um mundo inteiro ecoando nos cômodos vazios. Mary adormece em meio a fotos e cartões de datas comemorativas; amanhece o dia na cidade e ela desperta as oito em ponto com a cabeça imensamente pesada, toma uma ducha e procura sentir cada gota de água como a lavar a sua alma. Caminha pelo bairro e adentra uma padaria qualquer, pede um café e se senta no balcão, enquanto aprecia o aroma do café um dos atendentes se aproxima e lhe entrega um bilhete e aponta para um rapaz com o violão nas costas saindo do estabelecimento, ela abre o bilhete que diz “Se não houver som a gente cria a harmonia, se não houver letra a gente inventa uma história, se não houver amor... bem se não houver amor então nada mais irá existir...” ao lado havia o nome e telefone.

Mary guardou o papel no bolso e saiu a andar pelo bairro, abriu um sorriso bobo e ouviu seu coração bater, seria essa uma das poucas certezas de que estava viva?

Kemii Athon
Enviado por Kemii Athon em 29/11/2012
Código do texto: T4011022
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