Vende-se um crânio
Em outra crônica, falei sobre o quadro da Última Ceia que meu pai, na década de 1940, entronizou, solenemente, na nossa casa, no interior do Ceará.
Contei, que o Velho acreditava, que a Ceia Lauta, pendurada na parede da nossa sala de jantar, era a garantia de que nunca nos faltaria o pão de cada dia.
Fantasia ou não, o certo é que seus oito filhos foram todos criados com a barriga cheia, apesar das secas ferozes que maltratavam, vez em qauando, a valorosa terra de Alencar.
O quadro era uma cópia da conhecida Última Ceia de Leonardo da Vinci.
Minha mãe costumava, nos fins de tarde, identificar para nós, um por um, os apóstolos: "este é o Tiago, este é o Tadeu, este é o Bartolomeu, aquele, aquele, é o Felipe."
Quando encontrava Judas, a Velha fazia uma ligeira pausa. E, em seguida, sentava o pau no Iscariotis.
Eu, com meus seis pra sete anos, sentia-me envaidecido porque, entre os apóstolos que Jesus convidara para o último rango, estava um Felipe, o quarto à direita do Mestre.
Exigia de minha mãe que me contasse tudo sobre ele. Dona Maria Luiza ficava em apuros, pois, nem ela e nem o vigário de nossa paróquia sabiam muita coisa sobre o apóstolo, cujo nome eu herdara.
Com efeito, pouco se escreveu, até hoje, sobre Felipe. Nos Evangelhos Sinóticos ele aparece rapidamente; e no Evangelho de João, também.
Lendo, recentemente, Os Enigmas do Vaticano, tomei conhecimento de que Felipe estaria entre os oito apóstolos que teriam sumido, depois de Pentecostes.
Os outros seriam André, Mateus, Bartolomeu, Tomé, Simão o Zelote, Judas Tadeu e Matias, o sucessor de Judas, o traidor.
Pedro, João, Tiago o menor e Tiago o maior - este com seus restos mortais enterrados em Compostela - são citados, lembra o livro, nos Atos dos Apóstolos, nas Cartas de Paulo e no Apocalipse.
Consultando outros livros, obtive a informação de que Felipe era um sujeito discreto; que teve duas filhas; que morrera crucificado, na Àsia Menor; e que seus ossos estão guardados na igreja dos Santos Apóstolos, em Roma.
Mas, pelo que li na página do BBC Brasil, o crânio de Felipe apóstolo não se encontra na citada igreja romana.
Um website russo, diz o BBC Brasil, divulgou, que um coronel aposentado do Exército soviético, de nome Boris Georgiev, apareceu, em São Petersburgo, vendendo o crânio de São Felipe, por 1.000 euros, o equivalente a quase R$3 mil.
Levando em conta o valor da relíquia, considerei irrisório o preço estipulado pelo tal vendedor.
Ainda de acordo com o website russo, a relíquia é descrita como sendo "os despojos de um santo ortodoxo, em boas condições, com uma inscrição confirmando o nome do santo".
Como era de se esperar, a Igreja Ortodoxa russa reagiu indignada. Condenou o estranho leilão, e qualificou o anúncio "como imoral".
O despacho do BBC Brasil.Com conclui, dizendo, que, apesar da ampla divulgação, inclusive pela internet, poucos se arriscaram a oferecer um lance; o que levou o proprietário do crânio - Georgiev não revelou o seu nome - a desistir da venda.
E o pior, é que ficou sem saber o que fazer com a relíquia.
É provável, que para muita gente esta notícia não tenha despertado nenhum interesse. Seria mais uma lorota internacional.
Para mim, não, pois, mexeram com o meu xará, como viram, um santo modesto.
Por isso, resolvi dar destaque ao fato, e tomá-lo como tema de minha crônica de hoje. Pouco importa se tudo não passa de uma farsa.
É claro que não disponho de tantos euros para comprar o crânio de São Felipe.
Sabedor, porém, de que seu proprietário estaria em dúvida sobre o destino a dar à sacrossanta relíquia, eu, daqui da Bahia, proponho-lhe que ela me seja doada.
Darei ao crânio do santo xará uma sepultura digna, e serei manchete em todos os jornais do mundo.
Em outra crônica, falei sobre o quadro da Última Ceia que meu pai, na década de 1940, entronizou, solenemente, na nossa casa, no interior do Ceará.
Contei, que o Velho acreditava, que a Ceia Lauta, pendurada na parede da nossa sala de jantar, era a garantia de que nunca nos faltaria o pão de cada dia.
Fantasia ou não, o certo é que seus oito filhos foram todos criados com a barriga cheia, apesar das secas ferozes que maltratavam, vez em qauando, a valorosa terra de Alencar.
O quadro era uma cópia da conhecida Última Ceia de Leonardo da Vinci.
Minha mãe costumava, nos fins de tarde, identificar para nós, um por um, os apóstolos: "este é o Tiago, este é o Tadeu, este é o Bartolomeu, aquele, aquele, é o Felipe."
Quando encontrava Judas, a Velha fazia uma ligeira pausa. E, em seguida, sentava o pau no Iscariotis.
Eu, com meus seis pra sete anos, sentia-me envaidecido porque, entre os apóstolos que Jesus convidara para o último rango, estava um Felipe, o quarto à direita do Mestre.
Exigia de minha mãe que me contasse tudo sobre ele. Dona Maria Luiza ficava em apuros, pois, nem ela e nem o vigário de nossa paróquia sabiam muita coisa sobre o apóstolo, cujo nome eu herdara.
Com efeito, pouco se escreveu, até hoje, sobre Felipe. Nos Evangelhos Sinóticos ele aparece rapidamente; e no Evangelho de João, também.
Lendo, recentemente, Os Enigmas do Vaticano, tomei conhecimento de que Felipe estaria entre os oito apóstolos que teriam sumido, depois de Pentecostes.
Os outros seriam André, Mateus, Bartolomeu, Tomé, Simão o Zelote, Judas Tadeu e Matias, o sucessor de Judas, o traidor.
Pedro, João, Tiago o menor e Tiago o maior - este com seus restos mortais enterrados em Compostela - são citados, lembra o livro, nos Atos dos Apóstolos, nas Cartas de Paulo e no Apocalipse.
Consultando outros livros, obtive a informação de que Felipe era um sujeito discreto; que teve duas filhas; que morrera crucificado, na Àsia Menor; e que seus ossos estão guardados na igreja dos Santos Apóstolos, em Roma.
Mas, pelo que li na página do BBC Brasil, o crânio de Felipe apóstolo não se encontra na citada igreja romana.
Um website russo, diz o BBC Brasil, divulgou, que um coronel aposentado do Exército soviético, de nome Boris Georgiev, apareceu, em São Petersburgo, vendendo o crânio de São Felipe, por 1.000 euros, o equivalente a quase R$3 mil.
Levando em conta o valor da relíquia, considerei irrisório o preço estipulado pelo tal vendedor.
Ainda de acordo com o website russo, a relíquia é descrita como sendo "os despojos de um santo ortodoxo, em boas condições, com uma inscrição confirmando o nome do santo".
Como era de se esperar, a Igreja Ortodoxa russa reagiu indignada. Condenou o estranho leilão, e qualificou o anúncio "como imoral".
O despacho do BBC Brasil.Com conclui, dizendo, que, apesar da ampla divulgação, inclusive pela internet, poucos se arriscaram a oferecer um lance; o que levou o proprietário do crânio - Georgiev não revelou o seu nome - a desistir da venda.
E o pior, é que ficou sem saber o que fazer com a relíquia.
É provável, que para muita gente esta notícia não tenha despertado nenhum interesse. Seria mais uma lorota internacional.
Para mim, não, pois, mexeram com o meu xará, como viram, um santo modesto.
Por isso, resolvi dar destaque ao fato, e tomá-lo como tema de minha crônica de hoje. Pouco importa se tudo não passa de uma farsa.
É claro que não disponho de tantos euros para comprar o crânio de São Felipe.
Sabedor, porém, de que seu proprietário estaria em dúvida sobre o destino a dar à sacrossanta relíquia, eu, daqui da Bahia, proponho-lhe que ela me seja doada.
Darei ao crânio do santo xará uma sepultura digna, e serei manchete em todos os jornais do mundo.