NATAL, FINS DE ANO
Ao aproximarem-se as festas de fim de ano, costumo ficar mais sentimental e, mais sensível ao que se passa ao meu redor. É sempre assim, e acredito que o mesmo acontecerá com a maioria das pessoas.
É que chegado esse tempo, começam assomar lembranças antigas, de outros Natais e outros finais de ano, quando éramos crianças, jovens e, já não tão jovens; e foram tantos os momentos felizes!... Mas também alguns momentos tristes e de muita solidão, felizmente poucos.
Tinha eu chegado A Porto Alegre com procedência da cidade de Rio Grande, fazia pouco. Era o novo começo de minhas aventuras por terras gaúchas, e era próximo o fim de ano.
Na noite de Natal daquele ano, após ter assistido à Missa do Galo, na catedral metropolitana de Porto Alegre e, não tendo ainda nenhum novo amigo, ali, dirigi-me à Pensão Ludwig à Rua Andrade Neves, em pleno centro da cidade. Era lá que eu estava hospedado. O dono da mesma era o Júlio Ludwig, descendente de alemães, cidadão de poucas palavras, e econômico também em sorrisos, mas nos fizemos bons amigos.
Agora já no quarto, sós com meus pensamentos e minha solidão, ligo meu rádio e chorei convulsivamente. Guardava uma garrafa de vinho do Porto, que carreguei desde a cidade de Rio Grande, única peça que guardei de antigo negócio meu, naquela cidade, para tomar em algum momento especial e em boa companhia; e brindei. Sim brindei à minha saudade, a meus pais e meus avós e outros familiares que estavam tão longe, mas tão perto de meu coração, e brindei também ao Menino Jesus.
Ao outro dia acordei com a garrafa vazia ao lado da minha cama, e sem ressaca. Com certeza foram anjos celestes que compartilharam comigo de tão doce néctar dos deuses, no qual amenizei o amargo de minha saudade. Afinal lá nas caves do vinho do Porto, em Gaia, Portugal, as simpáticas guias turísticas dessas casas nos falam que aqueles barris de vinho são atestados de vez em quando, pois, a parte vazia é arte dos anjos, que às escondidas também eles gostam de dar suas tomadinhas do inefável néctar.
Também recordo que em certa véspera de fim de ano, quando já namorava aquela que viria a ser a mãe de meus filhos, resolvi associar-me às festas de seus familiares na cidade de Cruz Alta. Naquele tempo eu ainda não tinha automóvel. Resolvi então tomar o trem Minuano, naquele tempo considerado um luxo. Chegado à estação férrea em Porto Alegre para adquirir a respectiva passagem, a surpresa, lugar, só de pé. Ora a viagem levava quase a noite toda até Cruz Alta. Imaginem uma noite de pé chacoalhando, e aquele som monótono do rodado sobre os trilhos; meus amigos era preciso estar apaixonado para tal odisseia.
Confesso que apesar de tudo não senti cansaço. Milagres do amor, da paixão, ímpetos da idade que tudo ousa, e nada teme; tempo dos sonhos e da ilusão.
Não posso me queixar daquela aventura e, das viagens que se repetiriam por muitas outras vezes, mas agora de carro com meus pequenos rebentos e sua mãe. Todos os natais e finais de ano lá íamos nós com a turminha sempre ansiosa para chegar à terra dos avós maternos, conterrâneos de Érico Veríssimo, o mais ilustre filho da terra. Terra na qual segundo velha lenda, quem bebesse da água de certa cacimbinha estava tramado, pois, dali não saia mais solteiro. Não sei se aquela água ainda tem tais poderes. Apesar de eu nunca ter bebido da água da cacimbinha cumpriu-se o fado.
Como é bom recordar momentos assim vividos até mesmo como os lá da pensão Ludwig naquela noite de Natal. Pena que não possamos fazer o tempo voltar para trás e repetir tudo de novo. Mas o que foi nunca mais será!...
Mas com toda confiança agradecer ao doce Menino que, há mais de dois mil anos se fez um de nós, por tudo de bom, e por mais uma vez poder relembrar tais vívidos momentos. E, de inhapa se não for abuso de minha parte, pedir me conceda mais uns Bons Natais, com muita Paz para mim e, para todos meus irmãos, habitantes desta grande aldeia global, chamada Terra. 20/11/2012